Quando observarmos Brasília de norte a sul, percebemos que o Lago Paranoá é um local cheio de histórias. Muitos espaços para diversão, meditação, lazer, esportes, náutica e muito mais. É difícil não querer visitar o lago e conhecer suas memórias. O local oferece tantas possibilidades de diversão, que encantar-se por ele, meditar à sua margem ou apreciar o nascer e pôr do sol se torna, praticamente, inevitável. Muitas pessoas, certamente, pensam que o Lago Paranoá sempre existiu. A bem da verdade, é bem difícil imaginar Brasília sem ele. Há ainda os que pensam que o lago é mais uma criação do idealizador de Brasília Lucio Costa, ou do arquiteto Oscar Niemayer.
Vista aérea da construção da barragem do Lago Paranoá, [1958-1960]. (1960)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
De fato, o idealizador do Lago Paranoá foi o engenheiro, botânico e paisagista francês Auguste François Marie Glaziou, membro integrante da 2ª Comissão Cruls ocorrida de 1894 a 1895, a qual determinou como poderia se construir o lago de Brasília.
Corredeiras do Rio Paranoá que represedas dará origem ao Lago Paranoá, 1957. (1957)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Em 1858, por influência de suas amizades brasileiras, Glaziou decidiu vir ao Brasil e se tornou amigo do Imperador. Foi designado para participar da Comissão de Estudos da Nova Capital da União em 1894 e, junto com outros viajantes, se encantou com o clima, a fauna, a flora e as condições geográficas. Auguste foi crucial acerca dos estudos que envolveram a criação do Lago e a concretização do seu projeto, o qual mais tarde ficou intitulado de “o sonho de Glaziou”.
Construção da barragem do Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Glaziou era um observador atento da natureza, e não apenas percebeu a viabilidade de execução do Lago, mas também apontou a solução técnica para a constituição do mesmo, a qual foi adotada mais de 60 anos depois, no momento da construção de Brasília.
Águas do Rio Paranoá que, represadas, darão origem ao Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Através do trecho da carta de Glaziou podemos fazer referência a criação do lago: […] "Entre dois grandes chapadões na localidade pelos nomes de Gama e Paranoá, existe imensa planície em parte sujeita a ser coberta pelas águas da estação chuvosa”.
Construção da barragem do Lago Paranoá, [1958-1960]. (1960)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
[...] "É fácil compreender que, fechando essa brecha com uma obra de arte forçosamente a água tomará ao seu lugar primitivo e formará um lago navegável em todos os sentidos num comprimento de 20 a 25 quilômetros sobre uma largura de 16 a 18.”
Barragem do Lago Paranoá, [1958-1960]. (1960)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Anos após a Comissão Cruls, os urbanistas Raul Penna Firme, Roberto Lacombe e José de Oliveira Reis elaboram um estudo preliminar para a Nova Capital. Esse estudo privilegiava a construção do Lago, pois assim constava no relatório: “Projetou-se uma barragem a jusante do rio, que se transforma num lago ornamental [...]”
Construção da barragem do Lago Paranoá, 1959. (1959)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
E foi mediante o fechamento da brecha nos paredões das chapadas, com a “obra de arte” hoje conhecida por barragem do Paranoá, que o Lago Paranoá surgiu. Tudo isso para que se cumprisse o Art. 4º do Ato das Disposições Constitucionais Provisórias da Constituição de 1946, que voltava a indicar a previsão de mudança da Capital Federal, deixada de lado pela Constituição de 1937.
Canalização do Lago Paranoá para criação de energia elétrica, [1958-1960]. (1960)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Resgatava-se assim, o ideal de uma capital no interior do país, proposto pela primeira Constituição da República Brasileira, de 1891, cujo propósito, entre outros, era permitir uma ocupação mais racional das dimensões continentais do país.
Construção da barragem do Lago Paranoá, [1958-1960]. (1960)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
No entanto, a data real da criação do Lago Paranoá ocorre quando da exigência de um lago, a qual constava no edital do concurso que elegeria o projeto arquitetônico e urbanístico da nova capital do país. Em 30 de setembro de 1956 foi lançado o edital e publicado no Diário Oficial. Foram contabilizadas 63 inscrições, e na data de entrega, apenas 26 projetos são conferidos.
Vista aérea da construção da barragem do Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Lucio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima e Costa, mais conhecido como Lucio Costa, cumpre a exigência de um projeto urbanístico no qual demandava a construção de um lago, cujo nível das águas seria a cota de 1000 metros acima do nível do mar.
Construção da barragem do Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
No seu plano vencedor, Lucio Costa chama o Lago de lagoa e o descreve no item 20 do Relatório Descritivo do Plano Piloto de Brasília - 1959: “Evitou-se a localização dos bairros residenciais a orla da lagoa, a fim de preservá-la intacta, tratada com bosques e campos de feição naturalista e rústica para os passeios e amenidades bucólicas de toda a população urbana”.
Construção da barragem do Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
"[...]O Lago Paranoá foi fundamental desde o início e não foi proposta minha. Quando foi escolhido o local da nova capital já havia a possibilidade de se fechar aquela garganta e criar o lago. De modo que o lago foi uma peça fundamental na proposta da nova capital. Acho, de fato, que se deve tornar o lago mais acessível para a maioria da população”.
Presidente JK, Israel Pinheiro e jornalista James de Coquet visitam a construção da barragem do Lago Paranoá.Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
A construção da barragem se inicia em 1957, sob responsabilidade da construtora americana Raymond Concrete Pile of the Americas, mas o constante atraso nas obras impedia a concretização da promessa de campanha, feita em 1955, pelo Presidente Juscelino Kubitschek, de que a inauguração de Brasília ocorreria em abril de 1960.
Placa informando a área para a construção da barragem do Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Por isso, Juscelino rescinde o contrato e transfere o comando da construção da barragem para a NOVACAP, que dividiu o trabalho com as construtoras Camargo Corrêa, Rabello e Engenharia Civil e Portuária.
Construção da barragem do Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Para o Presidente Juscelino Kubistchek, era inconcebível a inauguração de Brasília sem o lago: “Como inaugurar Brasília sem o lago tão amplamente anunciado e que, além do mais, seria a moldura líquida da cidade?".
Lago Paranoá emoldurando o Palácio da Alvorada, [1958-1960] (1960)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
À época, havia quem pensasse que a obra do Lago não se concretizaria. O colunista Gustavo Corção, do jornal O Globo, não acreditava que, por conta do terreno arenoso do planalto central, o lago encheria. Entretanto, dia 12 de setembro de 1959, no dia do aniversário do Presidente, fez-se a inauguração da barragem. Oito meses depois, assim que o lago atingiu a famosa cota mil, o colunista recebeu uma mensagem via telegrama bem humorada do Presidente Juscelino Kubitschek:“Encheu, viu?”
Vista aérea da construção da barragem do Lago Paranoá, 1958. (1958)Arquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Assim, por entre as matas recortadas, um vale de vegetação torta, se torna um imenso canteiro de obras, sendo desbravado por operários vindo de todos os cantos do Brasil fazendo, hoje, do Lago Paranoá um local de diversão, em que a orla oferece uma caminhada, um pedalar contra a brisa suave, o velejar nas calmas águas ou simplesmente meditar e observar o nascer e o pôr do sol.
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Capivaras no Lago ParanoáArquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Capivaras do Lago
A capivara habita as margens do Lago Paranoá desde 1970. Por ser um animal generalista e não estar em risco de extinção, acaba por competir com o homem pelo uso do espaço. E por isso, no calor, as vizinhas de gramado não pensam duas vezes em aproveitar as piscinas dos moradores da orla.
Ilha do Lago ParanoáArquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Ilhas do Lago
O Lago Paranoá possui três ilhas, que são chamadas de Paranoá, Retiro e dos Clubes. A ilha do Paranoá é a maior delas e tem aproximadamente 1,54 hectares, com cerca de 110 metros de largura. Fica situada nas proximidades dos Trechos 4 e 5 do Setor de Mansões do Lago Norte. A Ilha Retiro é situada nas proximidades do Trecho 7 do Setor de Mansões do Lago Norte, possui aproximadamente 1 hectare, com altitude de 1.004 metros, distante 85 metros da margem do Lago Paranoá.
Ilha do Lago ParanoáArquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
A Ilha dos Clubes é a menor e possui aproximadamente 6 metros quadrados. Fica situada próxima à Ponte JK. As ilhas Paranoá e Retiro são declaradas como Reserva Ecológica pela Lei Distrital nº 1612 de 08 de agosto de 1997.
Barcos Veleiros no Lago ParanoáArquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Frota Marítima
Mesmo sem acesso direto ao litoral, Brasília possui uma extensa frota marítima. Seu total de embarcações está entre os maiores do país, ficando atrás apenas de São Paulo, Paraná e Rio de Janeiro. Aos finais de semana, é possível contemplar a grande quantidade de embarcações circulando no Lago Paranoá. A frota de Brasília é superior a 52.800 barcos e lanchas inscritos na Marinha do Brasil.
Fotos Aéreas da Ponte JK, de Cleveton SilvaArquivo Público do Distrito Federal - ArPDF
Ponte JK
Inaugurada em 15 de dezembro de 2002, a ponte Juscelino Kubitschek, também conhecida como "Ponte JK" ou "Terceira Ponte", impressiona por sua beleza e arquitetura monumental.
Seu projeto foi escolhido dentre os trabalhos apresentados no Concurso Nacional de Estudos Preliminares de Arquitetura, em dezembro de 1998. Foi projetada pelo arquiteto carioca Alexandre Chan, que recebeu em 2003, durante a International Bridge Conference, a medalha Gustav Lindenthal, pelas qualidades estéticas e harmonização ambiental. Com 1,2 km de extensão, a Ponte JK é considerada um dos mais belos cartões postais da Capital Federal.
Vila Amaury - A vila submersa
O Lago Paranoá tem muitas histórias para contar. Uma delas é sobre a Vila Amaury. Você já ouviu falar nela? Não? Contamos para você! Em 1959, quando da construção de Brasília, cerca de 16 mil operários que trabalhavam na edificação do Congresso Nacional e dos Ministérios, moravam com suas famílias na Vila.
A Vila foi criada por um dos funcionários da NOVACAP, Amaury Almeida. Na época ele era o responsável por organizar a chegada dos novos migrantes e alojá-los, em um movimento pró-moradia.
O acampamento provisório compreendia uma verdadeira “Vila”: tinha bares, restaurantes, lojas, comércio em geral, e até um miniparque de diversões. Hoje, se ainda existisse, estaria situada no declive aos fundos de onde atualmente estão o Iate Clube de Brasília e o Grupamento de Fuzileiros Navais.
À época o local era provisório e os trabalhadores que ali foram morar sabiam disso. Em 1959, quando a obra da barragem do Lago Paranoá foi encerrada, os moradores da vila precisavam sair. Mesmo assim, se recusavam a deixar o local sem que antes lhes fossem oferecidas moradias para suas famílias.
Durante oito meses, as águas avançaram mansas e lentamente, sobre a terra seca. Por isso, a NOVACAP teve que dar um ultimato aos moradores, ordenando que saíssem, visto que, a água do Lago já atingia a altura dos joelhos das pessoas.
Foi neste contexto de apreensão que, muitas famílias da Vila Amaury foram transferidas para Taguatinga, Gama e, principalmente, para Sobradinho, cidade que foi construída para abrigar os moradores. Como as comportas da barragem foram fechadas no período em que as chuvas começavam mais fortes, o lago encheu muito rapidamente e, não houve tempo para remover os barracos da vila e limpar a área que seria inundada.
Colaboradores:
- Adalberto Scigliano - Superintendente
- Elias Manoel da Silva - Gerência de Difusão - GEDIF.
- Hajnalka Maria Gabriela Korossy Tomaz - Gerência de Tratamento e Preservação de Acervo Áudiovisual - GEAUD.
- Renato Vilar Nasr - Gerência de Tratamento e Preservação de Acervos Textuais e Cartográficos - GEPRES.
- Anna Paula Pesso S. S. Fonseca - Diretoria de Tratamento e Preservação - DITRAP.
- Rogerio Cardoso de Amorim - Coordenação de Arquivo Permanente - COAP.
- Rafael Mendes Rechden - Unidade de Gestão de Documentos e Protocolo - UGED.
- Greice L. Lins Schumann Albernaz - Diretoria de Pesquisa, Difusão e Acesso - DIPED.
- Maria Alice O Telles de Vasconcellos - Gerência de Capacitação - GECAP.
- Patrícia Guimarães Garcês - Coordenação de Arquivo Permanente - COAP.
- Claudia Amancio e Silva - Gabinete.
- Taiama Mamede B. Solecki - Coordenação de Sistemas - COSIS.
- Adriane Rodrigues de Oliveira - Gerência de Atendimento - GEAP.
- Morine Mughabghab - Gerência de Biblioteca - GEBIB.
- Alessandra Braz de Queiróz - Diretora de Controle e Monitoramento - COSIS
- Elizete Ribeiro Alves Anjos - Diretoria de Capacitação e Orientação Técnica - DICOT
- Thyago Lima de Aguiar - Chefe da Unidade de Tecnologia da Informação - UTEC
Referências Bibliográficas: Acesse aqui
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