Memórias da Praça

Do Museu do Café

Museu do Café

Rua XV de Novembro com vista para o Edifício da Bolsa Oficial de Café. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

O projeto

A exposição virtual Memórias da Praça é o fruto de quatro anos de pesquisas a respeito do funcionamento da praça por meio, principalmente, do método da História Oral. Em três momentos diferentes, você poderá conhecer histórias de corretores, exportadores, ensacadores, catadeiras, classificadores, costureiras, estivadores, traders… enfim, diversos profissionais da cadeia comercial do café que atuaram na cidade de Santos. São depoimentos, fotos e textos que costuram a atuação desses profissionais em três momentos: o da Corretagem, da Armazenagem e o da Exportação.

Vista da fachada do edifício da Bolsa Oficial de Café. (1990/1995), de José Dias HerreraMuseu do Café

Corretores e exportadores de café na Rua XV de Novembro. (1940/1949), de José Dias HerreraMuseu do Café

Corretores de café

O Museu do Café, instituição da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, elaborou uma exposição virtual em homenagem a esse sujeito histórico de crucial importância na história do café e de Santos. Tal dia foi escolhido porque, em 1914, foi assinada a lei que instituiu a Bolsa Oficial de Café em Santos e que tornava obrigatória presença de um corretor oficial para intermediar as negociações de café.  Entretanto, não existiam somente corretores de Bolsa, tendo esse personagem desempenhado diversas outras funções na compra e venda do café. A distância e a dificuldade de comunicação entre as zonas produtoras e portuárias possibilitou a formação de uma classe que intermediava a relação fazenda-porto. Inicialmente esse papel foi feito pelos comissários de café, homens de confiança dos fazendeiros, cujas funções se estendiam do financiamento dos produtores à venda do café ao exportador. Esses comissários, assim como as firmas comerciais e os donos de armazém, podiam ter empregados, chamados corretores. O crescimento do volume das negociações fez aparecer outra categoria de intermediários nos centros exportadores, como Rio de Janeiro e Santos. Denominados “zangões”, eram corretores do café disponível na praça que podiam trabalhar, sem exclusividade, para diferentes compradores ou vendedores de café, ganhando uma comissão sobre o valor negociado. Eram grandes fontes de informação, sabendo as cotações diárias e a situação do mercado na Praça antes das divulgações oficiais. Mesmo após a função de comissário de café desaparecer, esses corretores permaneceram atuando em diferentes categorias, seja representando seus clientes do interior, trabalhando na rua para escritórios de outros corretores, revendendo café para as exportadoras, trabalhando com câmbio ou negociando nas Bolsas de Mercadorias.

Homens conversando na Rua XV de Novembro, em frente ao escritórios de armazéns e exportadoras. (1940/1949), de José Dias HerreraMuseu do Café

Rua XV de Novembro com vista para o Edifício da Bolsa Oficial de Café. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

A praça

A confluência das ruas Frei Gaspar e XV de Novembro – conhecida desde tempos coloniais como ”Quatro Cantos” – era o centro do comércio do café em Santos. Em seus arredores estavam instalados exportadoras, corretoras, bancos e a Bolsa Oficial de Café. Esse ponto era marcado também pela grande concentração de pessoas ligadas ao café, como os próprios corretores, que por ali passavam, se informavam ou realizavam negócios. 

Vista do edifício da Bolsa Oficial de Café. (1970/1979), de José Dias HerreraMuseu do Café

Quatro cantos: ponto de encontro muito comum no passado. Negócios eram iniciados e selados no local.

Vista da fachada do edifício da Bolsa Oficial de Café. (1990/1995), de José Dias HerreraMuseu do Café

O fluxo de pessoas era contínuo na Rua XV. Corretores iam e vinham em busca do melhor negócio, do melhor acordo.

Escritório de café na cidade de Santos. (1910/1919), de DesconhecidoMuseu do Café

Escritório

Eram denominados corretores de interior, em geral, aqueles que possuíam escritórios e lidavam diretamente com o cliente que possuía o café para vender, seja ele produtor, cooperativa ou, em outros tempos, maquinistas ou comerciantes de café. Há cerca de 20 ou 30 anos, a cidade de Santos possuía diversos Armazéns Gerais. Esses corretores recebiam o café do interior e faziam a retirada da amostra por meio de uma ordem de entrega. Para saber exatamente o que estavam vendendo, os corretores precisavam ter equipamentos e conhecimentos necessários para classificar o café por tipo e qualidade.

Corretores de Café – Escritório – Fernando Feliciano SuplicyMuseu do Café

Corretores de café na Rua XV de Novembro. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

Corretor de rua

Com as amostras classificadas, anotavam-se as informações pertinentes, como lote, quantidade de sacas disponível, procedência, tipo de café, tipo de bebida e preço, antes de colocá-las na rua. Cabia então ao corretor entrar em contato com os possíveis compradores, levando as amostras aos exportadores. Como era um trabalho bastante fracionado e com muitas idas e vindas, os corretores de escritório tinham seus corretores de rua, que levavam os canudos com as amostras para as diversas exportadoras que trabalhavam na Praça. Concluídas as negociações, a corretagem era paga pelo vendedor e pelo comprador, geralmente 0,5% do valor total da venda, convenção que perpetua. O comprador podia também pagar um extra de 0,2% para o corretor de rua que intermediou a negociação.

Corretores de Café – Corretores de Rua – Álvaro Vieira da CunhaMuseu do Café

Corretores de Café – Corretores de Rua – Álvaro Vieira da Cunha (Parte 2)Museu do Café

Vista lateral do pregão da Bolsa de Café em funcionamento. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

A Bolsa

Uma modalidade bastante específica de corretagem na Praça de Santos eram os contratos de café a termo na Bolsa Oficial de Café em Santos. Isso significa que os cafés comercializados no pregão previam uma entrega futura, em meses pré-determinados. Concluído o pregão, eram fixados os valores dos cafés no quadro negro e a negociação era formalizada na Caixa de Liquidação. O comprador fazia o depósito baseado no preço firmado naquele momento, porém, caso o mercado flutuasse até a entrega desse café, esse valor deveria ser atualizado, resultando no depósito ou subtração da diferença pelo comprador.

Bolsa Oficial de Café vista de cima, com destaque para sua torre. (1965/1974), de José Dias HerreraMuseu do Café

Fachada da Bolsa Oficial de Café. (1990/1994), de José Dias HerreraMuseu do Café

Os Corretores Oficiais da Bolsa não poderiam trabalhar com outro tipo de modalidade, ou seja, não poderiam ser procuradores de nenhuma firma específica. Por isso, muitos escritórios tinham seu “corretor de Bolsa”. A Caixa de Liquidação da Bolsa fazia com que existisse outra modalidade de corretores, os de Entrega Direta, que também era um mercado futuro, igual o de Bolsa. Sua diferença estava na confiança da palavra do negociante: sem o órgão que fiscaliza as flutuações do mercado. O valor do café seria, então, dado somente na data da entrega por meio de seu valor corrente. Alguns corretores atribuem à essa modalidade um dos motivos para a diminuição do interesse nos pregões da Bolsa.

Detalhe da fachada do palácio da Bolsa. (1970/1979), de José Dias HerreraMuseu do Café

Fachada da Bolsa Oficial de Café vista da Rua XV de Novembro. (1970/1979), de José Dias HerreraMuseu do Café

Classificação de café em sala do edifício da Bolsa Oficial de Café. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

Sala de prova e classificação de cafés.

Corretor oficial durante pregão na Bolsa. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

O Pregão

O Salão do Pregão era o coração da Bolsa. Era ali que acontecia a sua principal razão de ser: as negociações de café mediadas pelos corretores. No auge de seu funcionamento, os pregões marcavam o ritmo da Praça de Santos: trens chegavam de São Paulo com os grandes comerciantes de café justamente a tempo do início dos pregões.

 

 

 

Não apenas os envolvidos diretamente no pregão se dirigiam à Bolsa de Café, mas todos os que queriam acompanhar os possíveis direcionamentos do mercado o frequentavam. 

Mobiliário do pregão na Bolsa Oficial de Café., José Dias Herrera, 1970/1979, Da coleção de: Museu do Café
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Jovem preenche quadro de cotações da Bolsa Oficial de Café. (1957), de José Dias HerreraMuseu do Café

Salão do pregão e galeria da Bolsa Oficial de Café., de José Dias HerreraMuseu do Café

Presidente e membros da Câmara Sindical da Bolsa Oficial do Café. (1974), de José Dias HerreraMuseu do Café

Homem preenche quadro de cotações da Bolsa Oficial de Café. (1974), de José Dias HerreraMuseu do Café

Rua XV de Novembro com diversos transeuntes, em sua maioria corretores de café. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

A Rua

De volta à Rua - A essência dos corretores era o trabalho na rua. Ele possuía dinâmica própria, e por mais que algumas atividades fossem realizadas no escritório, por telefone ou na Bolsa, os corretores sempre voltavam às ruas. Mais do que local de trabalho, ela era lugar de convivência e busca de informações.

Aglomeração em frente à Bolsa Oficial de Café. (1940/1949), de José Dias HerreraMuseu do Café

Corretores e exportadores de café na Rua XV de Novembro. (1940/1949), de José Dias HerreraMuseu do Café

Corretores de Café – Canudos de amostras – Fernando Feliciano SuplicyMuseu do Café

Carnaval na rua XV de Novembro. (1960/1965), de José Dias HerreraMuseu do Café

A Rua XV era ponto de encontro para celebrações no Carnaval...

Multidão na rua XV de Novembro (1960/1965), de José Dias HerreraMuseu do Café

Comemoração na XV de Novembro. (1960/1965), de José Dias HerreraMuseu do Café

Athiê Jorge Cury e Modesto Roma na Comemoração na rua XV de Novembro. (1960/1965), de José Dias HerreraMuseu do Café

...E também após títulos do Santos FC, quando os torcedores se encontravam e comemoravam mais uma conquista da equipe!

Athiê Jorge Cury e Modesto Roma na Comemoração na rua XV de Novembro. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Comitiva na rua XV de Novembro. (1960/1965), de José Dias HerreraMuseu do Café

Homens conversando na Rua XV de Novembro, em frente ao escritórios de armazéns e exportadoras. (1940/1949), de José Dias HerreraMuseu do Café

Armazéns da Companhia Docas de Santos. (1920/1929), de Marques PereiraMuseu do Café

Armazéns

Com o intuito de valorizar a voz dos mais diversos trabalhadores inseridos no processo de estocagem e manuseio do café beneficiado, o Museu do Café dá sequência à exposição com o módulo “Armazéns de Café”. A exposição conta com depoimentos de fiéis de armazém, ensacadores e catadeiras, dando uma nova perspectiva do cotidiano do café na cidade de Santos. O armazenamento do café beneficiado tem por finalidade compensar as variações cíclicas ou eventuais da produção agrícola (como geadas, pragas ou superproduções), assim como nas intervenções dirigidas para um equilíbrio de preços, o que foi muito comum no Brasil durante o século XX nas políticas de valorização do café. O café é um produto bastante sensível às condições externas. Para guarda-lo por determinado período e conservar suas características originas, os armazéns necessitavam de uma série de cuidados. Na construção de um armazém, leva-se em conta a temperatura, condições climáticas e a umidade relativa do ar. Os pisos devem ser impermeabilizados, a ventilação e a iluminação controlada são importantes para a conservação do café. Os armazéns também podem oferecer o rebeneficiamento, processo utilizado para melhorar a classificação comercial do café, e por consequência, seu valor. É feita a eliminação parcial das impurezas e dos grãos imperfeitos, a separação e padronização dos grãos por tamanho e formato. O rebeneficiamento pode incluir também a formação de ligas (blends) que são a mistura de diferentes lotes de café para a formação de um lote homogêneo com as características desejadas. Em Santos, as dificuldades de transporte entre o interior e o litoral, e a função do porto de Santos de principal saída e entrada de mercadorias para a Província, fomentaram o estabelecimento de diversos armazéns pela cidade, o que se intensificou com o avanço do comércio cafeeiro no século XX. Existiam armazéns da São Paulo Railway, da Companhia Docas, armazéns de exportadoras e de catação de café, além de empresas especializadas que serviam de fiéis depositárias do café armazenado, chamados de Armazéns Gerais. No final da década de 1980 começa um deslocamento dos armazéns, de Santos para o Interior do estado de São Paulo, e até mesmo de outros estados. Apesar de não haver uma causa concreta para este fenômeno, ele é frequentemente creditado a desacordos entre os donos de armazéns e o sindicato dos ensacadores sobre os preços pagos pelos serviços destes, ou até mesmo a brigas fiscais entre os estados produtores, criando-se barreiras para incentivar os cafés a ficarem em seus locais de origem. A melhoria nos transportes, o tempo de embarque e a preferência pela exportação de café a granel, também reduziu a necessidade de se manter armazéns no litoral, de modo que se tornou economicamente vantajoso o estabelecimento dos armazéns no interior, perto da produção – como no caso das cooperativas de café, que atualmente conseguem manter grandes estruturas de armazenamento. 

Interior de um armazém de café. (1920/1929), de Marques PereiraMuseu do Café

Armazéns Gerais - Regulados pelo decreto 1.102, de 21 novembro de 1903, e fiscalizados pelas Juntas Comerciais, os Armazéns Gerais eram responsáveis pela guarda, conservação, pronta - em 24 horas - e fiel entrega da mercadorias recebidas, sendo responsabilizados por qualquer avaria, furto ou outra eventualidade. Não podiam exercer a atividade da qual se propõem receber mercadorias, ou seja, armazéns gerais que recebem café, não poderiam negociar café.
Outro papel importante dos Armazéns Gerais era a emissão de dois títulos unidos, mas separados à vontade, que eram o conhecimento de depósito e o warrant. Eles registravam o tipo, qualidade, quantidade de outras informações das mercadorias e eram utilizados principalmente pelos produtores para buscar financiamento nos bancos.

Ensacadoes trabalhando em armazém de café. (1928), de Theodor PreisingMuseu do Café

Fiel de Armazéns

O fiel de armazém era o funcionário de um Armazém, indicado pela diretoria, para ser responsável – inclusive judicialmente – por toda mercadoria que entra, sai e é armazenada, de modo que nenhuma seja movimentada para dentro ou fora do armazém sem a autorização do fiel. Ele também assina os warrants, documentos que são a garantia de que o café está depositado lá e o armazém é seu fiel depositário, usados principalmente para financiamento dos produtores. 

Enquanto alguns fiéis trabalhavam em escritório, outros acompanhavam de perto o trabalho no armazém, uma vez que eram responsáveis também pela qualidade dos vários serviços que os armazéns ofereciam. 

Armazéns Gerais – Fiel de armazém – Alexandre RodriguesMuseu do Café

Ensacadores trabalhando em armazém na cidade de Santos. (1928), de Theodor PreisingMuseu do Café

Ensacadores

O grande número de armazéns e circulação de café em Santos exigia um número elevado de trabalhadores para a movimentação das sacas. Eles atuavam no recebimento do café nos vagões de trem que vinham de São Paulo, nos diversos armazéns ou no descarregamento de carroças ou caminhões nos portões da Docas, sendo trabalhadores avulsos ou funcionários dos armazéns.

Os avulsos se organizaram e fundaram o Sindicato dos Operários no Comércio Armazenador, Carregadores e Ensacadores de Café de Santos, em 1919. Sua organização é similar ao sindicato dos estivadores: são escalados nas “paredes” ou “pontos” em um sistema de rodízio, trabalhando em grupos chamados de ternos, liderados por um capitão. Apesar dos armazéns de café possuíam um grupo de ensacadores fixos, a demanda frequentemente exigia a contratação de trabalhadores avulsos. 

Ensacadores movimentando sacas de café. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Ensacadores descarregando sacas de café. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Ensacadores descarregando sacas de café. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Eram pilhas e mais pilhas de sacas de café. O estoque tinha que ser enorme devido à alta demanda.

Ensacadores trabalhando no interior de armazém. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

Quando o café chegava ao armazém em sacarias, os ensacadores o descarregavam dos caminhões ou carroças, furavam a saca na entrada do armazém para retirar uma amostra e as empilhavam no interior do armazém, em corredores separados por lote, peneira ou outros diferenciais. Quando recebiam a ordem de seu cliente – digamos um exportador – para formar determinada liga para exportação, ou depois que o café era rebeneficiado, o terno de ensacadores se dividia para executar a tarefa.
Era um trabalho de grande exigência física e um grande contingente de trabalhadores. Isso fez com que fossem introduzidas diversas máquinas ao longo do século XX, que diminuíam o esforço do trabalhador em atividades como o ensaque, transporte interno e rebenefício, e aumentavam a produtividade. Na década de 90 os armazéns começam a utilizar as big bags, com capacidade de 20 sacas e movidas por empilhadeiras. Apesar do ganho na produtividade, foi responsável por um grande declínio na atuação dos ensacadores.

Ensacadores efetuando o despejo em armazém de café. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

Ensacadores descaregando sacas de café. (1950/1959), de José Dias HerreraMuseu do Café

Caminhões e carroças transportando sacas. (1928), de Theodor PreisingMuseu do Café

Catadeiras de café trabalhando em armazém. (1928), de Theodor PreisingMuseu do Café

Catadeiras

A profissão das catadeiras estava muito ligada à classificação comercial do café. Como a quantidade de grãos defeituosos e impurezas podia diminuir o valor do café, em alguns casos era proveitoso fazer uma seleção desses grãos para melhorar sua qualidade, e por consequência sua classificação – tarefa que integrava o rebeneficio. É com esse objetivo que se formaram os armazéns de catação de café – sejam instituições independentes ou pertencentes a alguma exportadora – no começo do século XX.

A tarefa era realizada predominantemente por mulheres, que faziam a catação manualmente, catando um a um os defeitos e separando os do resto do café – o que lhes deu o apelido de “pianistas”. Geralmente eram trabalhadoras avulsas, não possuindo vínculo com os armazéns e ganhavam por saca catada, o que era comum devido às flutuações de produtividade.

A catação manual começou a desaparecer na década de 70, quando as catadeiras eletrônicas, com uma produtividade superior ao trabalho manual, e menor custo, começam a aparecer no mercado, separando as impurezas por meio de ventilação de peneira, e posteriormente máquinas fotossensíveis que distinguiam grãos verdes, e outros grãos imperfeitos considerados defeitos. 

Armazéns Gerais – Catação manual de café - Maria Dias CarvalhoMuseu do Café

Estivadores trabalhando em porão de navio., de DesconhecidoMuseu do Café

Exportação

O Museu do Café encerrou o projeto "Memórias da Praça" com a exposição virtual “Exportação de Café”, com o intuito de valorizar a voz dos mais diversos trabalhadores inseridos no processo de compra, venda e embarque do café beneficiado. A exposição conta com depoimentos de classificadores, exportadores, traders e estivadores, focando na etapa final da venda do café no Porto de Santos. Por volta de 1850, a rápida progressão da cafeicultura faz as exportações de café começaram a superar as do açúcar, aumentando ainda mais o volume de carga que passava pelo porto de Santos, o que se manteve nos anos seguintes, transformando-o no segundo principal porto do país.  Sua posição estratégica garantiu a concentração das exportações de café da Província de São Paulo, possibilitando a consolidação de uma estrutura comercial ligada a essa atividade: casas comissárias, exportadoras, corretores, bancos, armazéns gerais e companhias de navegação se estabeleceram na cidade. A Praça de Santos foi até meados da década de 1990 o mais importante centro exportador de café do Brasil, negociando não só a produção de São Paulo, mas também grãos provenientes de estados vizinhos como o Paraná e Minas Gerais. Entretanto, o Porto de Santos continua o principal exportador do produto, tendo em 2014 correspondido a 77% do café exportado no país.

Carroça estacionada em frente a exportadora de café., de DesconhecidoMuseu do Café

Exportadores - O trabalho de uma exportadora sempre foi basicamente comprar o café do interior, seja diretamente com os produtores e cooperativas ou por meio de corretores, trabalhando-o para formar a liga (blend) de acordo com a preferência do cliente, e vendendo-o para as torrefadoras no exterior.
Essas “firmas”, como eram chamadas, tinham uma estrutura setorizada, com diversos profissionais encarregados do fluxograma dessas exportações, desde a compra do café, conferência de qualidade, armazenamento e preparação das ligas, até a comercialização do café, desembaraço de documentação alfandegária, e embarques no porto.
Durante o século XIX e meados do XX foram principalmente firmas estrangeiras a exportar café, como a Theodor Wille e Zerrenner & Bullow (alemãs), E. Johnston e Naumann Gepp (inglesas), e Leon Israel e Hard Rand (americanas). Algumas delas chegaram a abrir filiais no interior e atuaram também como casas comissárias, financiando produtores, armazenando e vendendo seus cafés, adquirindo fazendas cujos proprietários não conseguiam quitar suas dívidas.
O número de firmas nacionais cresceu durante as primeiras décadas do século XX, porém com uma fatia sempre menor do volume exportado com relação às estrangeiras. Ainda assim, comissárias e exportadoras como a Companhia Prado Chaves, Levy & Cia, e Lima Nogueira eram conceituadas firmas que atuavam na Praça. Com mudanças na dinâmica do negócio cafeeiro e sistema de financiamento, algumas firmas passaram a se dedicar exclusivamente à exportação.

Exportação – Rotina nas exportadoras – José Moreira da Silva, Da coleção de: Museu do Café
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Exportação – Embarque de café – Sérgio Hazan, Da coleção de: Museu do Café
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Exportação – Exportadora de café – Antônio Carlos Cavaco, Da coleção de: Museu do Café
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Classificadores realizando prova de xícara. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Classificadores

O café tem sido classificado no Brasil segundo as normas da Classificação Oficial Brasileira (COB), que analisa tanto a qualidade da bebida quanto a quantidade de defeitos, e tamanho dos grãos.

A classificação de grãos era feita pelas firmas exportadoras separando-os em três tipos: os de primeira sorte, os de segunda sorte e o “restolho”. Entretanto, no início do século XX, muitas divergências surgiram com a ampliação dos mercados futuros. Isso fez com que os vendedores brasileiros se adaptassem ao método utilizado no exterior, para minimizar as divergências de entre compradores e vendedores. Em 1907 adota-se o padrão da Bolsa de Nova York – o famoso “tipo 4” – sendo a prova de bebida incorporada ao longo dos anos.

Dentro desse processo de classificação, a separação por peneiras tinha um papel muito importante na uniformidade na torração. O café, desta forma, era separado de acordo com tamanho e formato de seus grãos, identificado pelo uso de diferentes peneiras, sendo o café não separado por peneiras chamado de “bica corrida”.

Classificadores de café realizando prova da bebida. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Já na classificação por tipos o café, a exigência era que se separasse de acordo com seu aspecto e número de defeitos encontrados em uma amostra de 300g, referente a um lote de café. Problemas durante a fase de cultivo da planta, colheita ou em seu processamento e poderiam influenciar na qualidade final da bebida.
Na classificação da bebida separavam-se os cafés de acordo com o gosto e aroma da infusão dos grãos. Essa era a prova de xícara. O fator que mais prejudicava a qualidade da bebida – na visão dos classificadores – era fermentação que ocorria durante o processo de secagem ou preparo do café.
Dentro da exportadora, o setor de classificação é essencial. Seus profissionais devem saber as preferências de cada importador – desde o tamanho dos grãos até o tipo de bebida - o que irá pautar a compra do café e a formação de ligas específicas para os clientes.

Classificação de café. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Processo de classificação de café. (1950), de DesconhecidoMuseu do Café

Classificação em sala da Bolsa Oficial de Café. (1950), de José Dias HerreraMuseu do Café

Exportação – Classificação e a preferência dos importadores – Ayrton Souza FerreiraMuseu do Café

Edifícios de Exportadoras de Café na cidade de Nova York - EUA. (1922), de DesconhecidoMuseu do Café

Trader

O trader era o funcionário da exportadora responsável pelo contato com os clientes no exterior. Em um mercado competitivo como o do café, com várias exportadoras atuando na mesma Praça, a confiança era um fator importante para realizar as vendas e manter a preferência do cliente. O contato do trader com as importadoras era frequente, envolvendo viagens para os diversos países consumidores; esse profissional fazia visitas a diversos torradores nas mais diversas cidades para conhecer as necessidades de seus clientes e estabelecer vínculos pessoais. Além disso, era importante para o trader conhecer o tipo de café desejado por cada cliente para poder dar subsídios aos classificadores na formação de blends específicos.

Torradores de café em Washington, D.C. (1980), de Carol M. HighsmithMuseu do Café

Torradores de Café na Inglaterra. (1900), de DesconhecidoMuseu do Café

Vista da Wall Street, Nova York. (1922), de DesconhecidoMuseu do Café

Estivagem de sacas realizada por trabalhadores no porto de Santos., de DesconhecidoMuseu do Café

Estivadores

A modernização do porto, iniciada em 1888 pela Gafrée, Guinle & Cia e continuada pela Companhia Docas de Santos, transformou a dinâmica do trabalho portuário. No porto antigo, os navios não atracavam, e sua ligação com o porto era feita por pontões ou lanchas que levavam e traziam os passageiros e mercadorias. Um terno de carregadores de café transportava as mercadorias do cais até os navios, descarregando-as no porão, onde um terno de estivadores fazia a arrumação, o que exigia grande número de homens.

 

A construção do cais de pedra permitiu a atracação dos navios, eliminando a necessidade dessas lanchas e pontes. A utilização de guindastes e esteiras rolantes também possibilitou o transporte de grandes quantidades de carga diretamente dos armazéns portuários para os navios, que somada a um sistema ferroviário próprio para o transporte interno de mercadorias, reduziu o número de trabalhadores necessários. Além disso, a Docas buscou controlar toda a movimentação de cargas dentro de seus portões com trabalhadores próprios (doqueiros), sob regime de trabalho e remuneração diferente dos avulsos. 

Embarque do café no porto de Santos. (1928), de Theodor PreisingMuseu do Café

Já a arrumação da carga ou retirada da mercadoria do convés ou porão do navio era trabalho dos estivadores. Sucedendo a Sociedade dos Estivadores de Santos, fundada em 1919 e fechada em 1926, foi formado o Sindicato dos Estivadores de Santos, em 1930. Na década de 1940, os estivadores conseguiriam a concretização do closed shop, sistema conhecido em outros portos do mundo, onde o trabalhador avulso precisava ser filiado ao sindicato para exercer sua função. Isso foi visto como uma independência da categoria, garantindo maior organização e participação dos próprios estivadores em seu mercado de trabalho.

Os estivadores se reuniam diariamente nas chamadas “paredes” onde eram feitas as ofertas de trabalho e suas contratações pelos mestres estivadores. Em geral, eram formados ternos (grupos de 10 a 12 homens) para trabalhar nos porões dos navios – algumas vezes trabalhando mais de um terno por porão – ganhando por produção.

Vista de um embarque de café. (1928), de Theodor PreisingMuseu do Café

Estivadores recebedo lingada no convés de navio., de DesconhecidoMuseu do Café

Carregadores fazendo o embarque de café. (1920), de Guilherme GaenslyMuseu do Café

O trabalho para embarcar as sacas de café era duro, pesado...

...Na verdade, 60kg por saca.

E enquanto uns carregavam uma por vez, outros carregavam até duas sacas, totalizando quase o dobro do seu próprio peso.

Exportação – Embarque de café em sacaria – José Lopes da Cunha, Da coleção de: Museu do Café
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Exportação – O Sindicato dos Estivadores e a distribuição dos trabalhos – José Lopes da Cunha, Da coleção de: Museu do Café
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Exportação – Embarque de café em sacaria – José Lopes da Cunha, Da coleção de: Museu do Café
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Créditos: história

GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

GERALDO ALCKMIN
Governador do Estado

MARCELO MATTOS ARAUJO
Secretário de Estado da Cultura

Renata Vieira da Motta
Coordenadora da Unidade de Preservação do Patrimônio Museológico

MUSEU DO CAFÉ

Roberto Penteado de Camargo Ticoulat
Presidente do Conselho de Administração

Guilherme Braga Abreu Pires Filho
Comitê Executivo

Eduardo Carvalhaes Junior
Comitê Executivo

Marília Bonas Conte
Diretora Executiva

Thiago da Silva Santos
Diretor Administrativo

Alessandra Almeida
Gerente de Controladoria Geral

Caroline Nóbrega
Gerente de Comunicação Institucional

Marcela Rezek Calixto
Coordenadora Técnica

Bruno Bortoloto do Carmo e Pietro Marchesini Amorim
Pesquisa e Curadoria

Vinícius Henrique Morales dos Santos
Produção

Créditos: todas as mídias
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes. Portanto, ela pode não representar as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
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