Máquina do mundo (2005), de Laura VinciInstituto Inhotim
Laura Vinci
“Máquina do mundo” toma seu título emprestado do célebre poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). Nela, os processos metafísicos presentes na vida dos indivíduos, como o tempo e as transformações da matéria, unem-se a elementos importantes na construção das infraestruturas sociais – como o maquinário (referência aos processos industrializantes, em que a contemporaneidade está situada) e também o mármore (como símbolo de permanência e da tradição escultórica). Para Laura, este trabalho é uma espécie de “ampulheta maquínica”, na qual o tempo é o responsável por modificar elementos que até então, no campo representativo, eram utilizados como símbolo de durabilidade. Assim como em uma ampulheta, há a mudança contínua da forma da areia que se esvai de uma extremidade a outra, em uma dualidade entre a permanência e a transformação. “Máquina do mundo”, portanto, reinicia-se como num ciclo de começo e fim.
Barril de petróleo (2006-2007), de Iran do Espírito SantoInstituto Inhotim
Iran do Espírito Santo
Nas esculturas de Iran do Espírito Santo, objetos comuns são representados em esculturas de formas perfeitas, realizadas com extrema precisão e virtuosidade, em materiais tradicionais como o granito, o aço e o vidro. Em Barril de petróleo, a escultura maciça alcança uma tonalidade profunda, assim como a do próprio petróleo, símbolo de um dos principais agentes impulsionadores da economia mundial e alvo de disputas territoriais. Já em Sem título (Desdobrado), o artista trabalha com uma figura geométrica, que se mostra desconstruída em planos soltos como em uma caixa desmontada – um jogo de transparência e reflexo absorve e rebate informações arquitetônicas do espaço expositivo.
Sem Título (Desdobrado) (2004), de Iran do Espírito SantoInstituto Inhotim
Sara Ramo
Sara Ramo busca desvelar os elementos e os espaços ordenados em situações de desarranjo da normalidade esperada. “Fissura (da série Mapas)”, obra a princípio escondida − quase inexistente a não ser por uma fresta na parede −, funciona como um olho mágico ou como um buraco de fechadura, que sacia a curiosidade de conhecer o outro lado, o avesso do espaço. Um interior totalmente diferente do imaginado, em que objetos adquirem protagonismo central em um caos cuidadosamente arranjado. Se, no exterior, a obra está associada ao cubo branco, a um ideal de perfeição, em seu interior o que se percebe é um novo mundo, no qual o que normalmente é considerado desordem e imperfeição, apresenta-se contrário ao ideal estético do espaço destinado à arte. São as entranhas desse espaço que se revelam através da fresta e, assim, ressignificam a ordem e a limpeza da sala externa.
Fissura (da série Mapas) (vista)Instituto Inhotim
Fissura (da série Mapas) (detalhe)Instituto Inhotim
José Damasceno
As instalações e as esculturas de José Damasceno são comumente constituídas por elementos banais, contrariamente ao que ocorre na escultura clássica. Interessa na obra um jogo entre representação e abstração, entre o clássico e o trivial. Em "Método para arranque e deslocamento", o artista lança mão de um revestimento de carpete comum a ambientes domésticos e empresariais, mas que, por meio de ações de corte e remoção, ganha novo sentido. Os cortes transformam o espaço antes planificado, descolando partes do carpete e construindo elementos a partir dele. Damasceno cria movimento, profundidade e volumetria. O plano alcança o espaço e se converte em escultura.
Método para arranque e deslocamento (detalhe)Instituto Inhotim
Mix (Boom) (2017), de Alexandre da CunhaInstituto Inhotim
Alexandre da Cunha
Alexandre da Cunha utiliza peças do cotidiano em suas esculturas, e, por meio de alterações, cortes e junções de elementos distintos, reconfigura-os com base nos códigos da arte. Em "Mix (Boom)", observamos a fragmentação de uma betoneira, máquina fundamental para a produção do concreto. Um equipamento corriqueiro no mundo da construção civil ganha novo sentido, mas mantém resquícios do seu uso original. A partir da intervenção do artista, o objeto se desdobra em novos elementos. O volume único se divide em quatro partes, que se espalham pelo espaço. A solidez original se desfaz, e a visão e o espaço, agora, atravessam as formas.
Seção diagonal (2008), de Marcius GalanInstituto Inhotim
Marcius Galan
A obra “Seção diagonal”, de Marcius Galan, é composta de elementos básicos comuns à arquitetura: parede, teto, piso, tinta, luz e cera. O material é utilizado pelo artista com o objetivo de criar uma ilusão. Ao entrarmos na sala, a tendência é pensar que há um vidro dividindo-a, levando-nos a visualizar uma vitrine vazia. Ao nos aproximarmos, porém, compreendemos que os nossos olhos foram enganados: trata-se de uma pintura no espaço. Uma sensação de desconforto sensorial se instala. De certo modo, o trabalho é um convite à contravenção, instiga-nos a tocar na obra, a provar sua materialidade. A escultura aqui é uma ilusão originada através dos códigos da arquitetura e dos espaços da arte.
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