A Obra Prima do Grão Vasco

O Grão Vasco é considerado o principal nome da pintura portuguesa quinhentista, Portuguesa influenciado pelo o e ideias renascentistas este pintor veio a representar a época dos. Através de uma narrativa visual venha conhecer esta obra prima, que entre outros pormenores retrata o primeiro Índio Brasileiro a ser representado em arte Europeia.

Políptico da Capela-mor da Sé de Viseu (1501-1506) (1501-1506), de Vasco Fernandes e Francisco HenriquesMuseu Nacional Grão Vasco

As origens do retábulo

O antigo retábulo da capela-mor da Catedral de Viseu, ou os catorze painéis que sobreviveram à sua desmontagem, é uma obra fundamental para perceber que a pintura e os pintores dos Países Baixos meridionais exerceram uma influência decisiva sobre o gosto da clientela e sobre o trabalho dos nossos pintores.

Apesar da polémica que a sua autoria tem suscitado, tudo leva a crer que uma equipa liderada pelo pintor flamengo Francisco Henriques, à qual se juntou localmente o ainda jovem Vasco Fernandes (o Grão Vasco), tenha feito, entre os anos 1501-1506, os painéis pintados do retábulo.

Nas diversas cenas narrativas alusivas às duas séries: Vida da Virgem e Infância de Jesus e na série da Paixão e Glorificação de Cristo, não só se reconhece a matriz nórdica no processo de representação, como é possível identificar modelos, figuras e cenários diretamente inspirados na produção, pictural e gráfica, dos primitivos flamengos.

Anunciação

A cena da Anunciação decorre, como é habitual, no espaço interior de uma habitação, preenchida com o leito da Virgem e alguns objetos de evidente intensão narrativa e simbólica, que aludem ao momento em que a Virgem foi surpreendida pelo mensageiro.

O horizonte visual prolonga-se através de duas aberturas para o exterior, uma das quais deixa entrever um fundo arquitetónico e a figuração de um poço (o "poço de águas vivas"), que simboliza a virgindade de Maria.

Visitação

A cena acontece quase sempre ao ar livre, à frente da casa de Isabel, que sai ao encontro de Maria, numa composição de tradicional estrutura triangular.

A perspetiva linear e aérea é utilizada com correção, permitindo dar expressão a uma cidade, e com um minucioso descritivo que percorre e domina a representação da cidade, figuram pessoas e animais, em traços quase expressionistas e à semelhança das elegantes figuras colocadas junto à porta da cidade.

Natividade

A Natividade tem lugar num interior em ruínas. Através de uma abertura, numa complexa relação entre espaço e tempo, surge um fundo paisagístico que serve de cenário para a representação de um tema secundário: a Anunciação aos Pastores.

Circuncisão

O realismo minucioso, a que não é alheia uma evidente intensão pedagógica, é o valor dominante na representação deste tema. Os vestígios de sangue na faca e sobre a toalha, ou a ponta de osso que remata o bordão de S. José, são pormenores que denotam um sentimento peculiar, talvez uma sensibilidade meridional e, por isso, invulgares na pintura nórdica.

Adoração dos Magos

A substituição do tradicional rei dos magos negros, Balthazar, por um índio brasileiro é o detalhe iconográfico que mais contribuiu para a popularidade deste painel pintado.

De fato, esta é a primeira representação da figura do índio na arte ocidental, ocorrendo um ou dois anos após a descoberta do Brasil.

Saliente-se também o facto de o Menino segurar na mão esquerda uma moeda de ouro, numa sugestão ao secular desejo de riqueza associada aos Descobrimentos Portugueses.

Apresentação

Uma iconografia rica e detalhada identifica-se especialmente neste painel. Em primeiro plano, destaca-se a figura feminina, representada de costas, que segura com a mão esquerda um cesto com três pombos.

Trata-se de uma iconografia interessante, já que, segundo a lei de Moisés, seriam oferecidos em sacrifício um par de rolas ou dois pombos.

No tondo colocado na parte superior da parede do fundo, ao centro do painel, representa-se um tema do Antigo Testamento: o anjo segura a mão de Abraão no momento do Sacrifício de Isaac.

Na mesma parede do fundo, deixando entrever um fundo arquitetónico, surge um pórtico de arquitetura já renascentista, encimado pelo escudo português.

Fuga para o Egito

Ao centro de uma composição rigorosamente triangular, e envoltos numa luz uniforme, figuram a Virgem e o Menino adormecido.

Contrasta com a serenidade desta representação a luminosidade intensa do anjo que, de rosto crispado e segurando a corda do burro e a palma do martírio, parece simbolizar, em antevisão, a Paixão de Cristo.

Última Ceia

Neste painel, Cristo e os Apóstolos reúnem-se em redor de uma mesa circular na qual figura, além dos elementos eucarísticos habituais, o pão e o vinho, um prato com uma ave, ao invés do cordeiro da tradição judia que se representa também com alguma frequência.

Apesar das incapacidades técnicas, da ausência de peso e corporalidade das figuras, é bem visível o extraordinário modelado do manto de Judas, simbolicamente representado num amarelo intenso, ou do rigor técnico na figuração de pormenores (a luz sobre o cálice, os copos de vinho e o seu reflexo sobre a toalha branca) evidenciando um essencial desejo de realismo.

Cristo no Horto

Numa magnífica composição definida por uma rigorosa linha diagonal, estabelecendo uma relação entre as figuras, Cristo dirige o seu olhar, numa expressão de acentuado misticismo, ao anjo que segura os instrumentos da Paixão. A dramatização da luz permite, uma vez mais, individualizar as figuras: enquanto ao longe soldados se encaminham no sentido de Cristo, para o momento sequente da prisão, os Apóstolos repousam envoltos numa luz intensa que parece emergir de um deles.

Prisão de Cristo

A iminente traição de Judas nos dois painéis que antecediam este, Última Ceia e Cristo no Horto, dá agora lugar à representação do tema central. Envolto no habitual manto amarelo, segurando o saco de moedas, símbolos da traição, Judas envolve Jesus Cristo com o braço e beija-lhe a face.

Descida da Cruz

Colocado na diagonal, o corpo de Jesus Cristo é retirado da cruz por José de Arimateia, Nicodemus e São João, o Evangelista. Madalena, em clara agitação, de costas e com um joelho no solo, assiste ao ato.

Os rostos mais expressivos, sobretudo os da Virgem e da santa mulher, a agitação de Madalena, a par da intensidade cromática, conferem o necessário dramatismo à cena.

Ressurreição

Jesus Cristo triunfante é representado sob o túmulo escavado na rocha. O alheamento de dois soldados, ainda adormecidos, contrasta com a atitude de surpresa do que figura à esquerda. Na paisagem do fundo, em ligação com a cena do primeiro plano, assinala-se a luz simbólica da alvorada.

Ascensão

Em redor de um volume rochoso, com sugestivas formas impressas, organizam-se as figuras que assistem à cena da subida de Jesus Cristo ao céu, designadamente a Virgem, Madalena e os apóstolos. Com a finalidade de assinalar o movimento ascendente da figura de Cristo, apenas representado a meio-corpo, recorre-se ao alteamento do olhar das personagens e acentua-se, com alguns gestos teatrais, a sua verticalidade expressiva.

Pentecostes
A cena da Descida do Espírito Santo (Pentecostes), facilmente identificável através da presença da pomba planante, decorre aqui no interior de uma habitação, em cujo fundo se pode identificar um leito e uma lareira.

Em redor da Virgem, que ocupa o centro do painel, organizam-se os doze apóstolos, cuja surpresa se assinala através dos gestos teatrais e da posição alteada da cabeça e do olhar.

Créditos: história

Coordenação: Paula Cardoso (Diretora MNGV)
Texto: Grão Vasco Museum
Produção digital: Luis Ramos Pinto (Direção Geral do Património Cultrual)

Créditos: todas as mídias
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