Poços de Caldas - MG: o início da jornada do título mundial de 1958.
O êxito da conquista da Copa do Mundo de 1958 pelo Brasil tem episódios que vão muito além das terras suecas. De clima ameno, águas termais e excelente receptividade, a cidade de Poços de Caldas, localizada no sul do Estado de Minas Gerais, foi o cenário da concentração de dez dias que reuniria pela primeira vez jogadores e comissão técnica da Seleção Brasileira.
Seleção chega a Poços de Caldas (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
A delegação comandada por Paulo Machado de Carvalho escolheu recolher o time em duas cidades mineiras: Poços de Caldas e Araxá.
Foi a primeira vez que a Seleção se reunia fora do Rio de Janeiro para uma preparação. Entre os dias 10 e 21 de abril de 1958, 35 pré-selecionados foram avaliados. Apenas 22 foram à Suécia.
As fotos que compõem essa exposição são de: Antonio Lucio.
Antonio Lúcio Rodrigues Ramos tinha um apreço especial pela cobertura esportiva. Teve suas fotografias publicadas nos jornais como "A Hora", "O Esporte", "O Cruzeiro", "Manchete" e "O Estado de S. Paulo".
Começou a fotografar ainda garoto, aos 14 anos. Com 16, ganhou um concurso do jornal "Notícias de Hoje", o que lhe abriu muitas portas. Com uma carreira como fotojornalista, ficou conhecido internacionalmente pela qualidade de suas imagens e pelos furos de reportagem que lhe renderam dois Prêmios Esso ao longo da vida. Falecido no ano 2000, vítima de um câncer, teve seu acervo sobre a concentração da seleção em Poços de Caldas descoberto em 2013 pela filha, a jornalista Silvia Herrera. Em 2018, Silvia lançou o livro "Seleção Nunca Vista", publicando fotografias de seu pai as quais gentilmente cedeu ao Museu do Futebol para a exposição temporária "A Primeira Estrela" e para esta exposição virtual.
A escolha por Poços de Caldas
Termas para banhos e mecanoterapia, Palace Hotel para hospedagem e concentração, Country Club para práticas de lazer e o Estádio Coronel Cristiano Osório disponível para os jogos treinos... Essa foi a estrutura oferecida ao time, embasando o argumento de Vinicius Vivas, então Diretor do Departamento de Turismo de Poços de Caldas, quando solicitou a candidatura da cidade mineira para receber o selecionado brasileiro. Os jornais locais registraram passo-a-passo da concentração que, depois do título, tornou-se parte da memória da cidade.
Passeio da equipe (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
"Consultamos Vossa Excelência a possibilidade da seleção nacional de futebol da Copa do Mundo concentrar-se em Poços de Caldas. (...) Rogamos resposta urgente com condições e esclarecimentos pt saudações”.
Telegrama enviado a João Havelange, então presidente da CBD, por Vinicius Vivas - Folha de Poços, 31 de janeiro de 1958.
Vicente Feola e seus convocados (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
“Tenho muita simpatia por Poços de Caldas, sem dúvida alguma uma das melhores estâncias hidrominerais do Brasil. Acho ideal para a concentração da Seleção. Se depender de mim, Poços de Caldas será escolhida para a concentração da Seleção” - Técnico Vicente Feola - Folha de Poços, 03 de março de 1958.
Hilton Gosling, médico da seleção, foi quem deu a palavra final sobre a escolha de Poços. Junto com ele ainda havia o preparador físico Paulo Amaral, o supervisor Carlos Nascimento, o dentista Mário Trigo, o psicólogo João Carvalhaes e o massagista Mário Américo.
De Dmitri KesselLIFE Photo Collection
“O prefeito de Poços de Caldas [Agostinho Loiola Junqueira] manteve contacto telefônico com o secretário particular de dona Sara Kubitschek [Servulo Tavares], solicitando a interferência da primeira dama do país no sentido de que esta cidade fosse escolhida como sede da concentração do escrete brasileiro de futebol”. Agostinho Loiola Junqueira - Folha de Poços, 03 de março de 1958.
Goleiro em lance de jogo-treino (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
Jornalista Nilson Garcia: "Como encara V.S. o próximo Campeonato Mundial?"
Dr. Hilton Gosling: "É um campeonato difícil, em quase todos os países que participarão, e mais o seu patrocinador, a Suécia, almejam o mesmo que nós, ou seja, a vitória final, e o tão cobiçado título de campeão mundial de futebol”.
Folha de Poços, 31 de março de 1958.
A concentração
Os primeiros dias de concentração foram marcados por um misto de bateria de exames médicos e odontológicos, psicológicos, cuidados estéticos e atividades recreativas. O trabalho realizado nesta etapa de preparação para o mundial é considerada por muitos como a primeira concentração bem elaborada pelo Brasil antes de uma Copa.
Pepe e o psicólogo João Carvalhaes (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
Mazzola na manicure (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
Jockey Club de Poços de Caldas (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
Gilmar e Bellini na cozinha (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
A comissão técnica passou a trabalhar com um conjunto maior de profissionais, e se dedicava a valorizar o entrosamento do grupo, com jogadores que vinham de clubes cariocas e paulistas. Era um tempo em que pouco se jogava "fora de casa", logo, havia menos contato entre os atletas que viviam em cidades diferentes.
Descontraídos, jogadores e Paulo Amaral posam para foto (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
O dia 14 de abril de 1958 marca o início do Método Dinamarquês praticado pelo preparador físico Paulo Amaral. Considerado rigoroso à época, era exigido dos atletas:
estimular o bloco atlético...
...que consistia na ênfase na ginástica.
bloco orgânico com salto em distância.
Campo de futebol do hotel da concentração em Poços de Caldas (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
E as simulações de jogos, chamadas de bloco técnico.
Zito, Gilmar e Pelé (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
“Às 9h20 de ontem foi iniciado o individual dos craques no estádio da A.A. Caldense, precedido por uma preleção do Sr. Paulo Amaral. Ao final do exercício que constou de corridas, salto e ginástica, foi efetuado um treino de bate bola com os goleiros Ernani, Gilmar, Carlos Alberto e Castilho, tendo todos se mostrado desenvolvidos e em ótima forma física”.
Folha de Poços, 16 de abril de 1958.
Os jogadores Zózimo, Gilmar e Gino Orlando (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
Foram realizados na cidade dois jogos-treinos ou "coletivos": o primeiro na sexta-feira, dia 18, sob muita chuva, e o segundo, no domingo, na presença de quase 3 mil torcedores. Este proporcionou uma renda recorde à época para o estádio Caldense de Cr$ 235 mil cruzeiros.
Jogadores em meio à torcida (1958), de Antonio LucioMuseu do Futebol
Parte do treinamento também foi realizado nas quadras e campo do Colégio Marista de Poços de Caldas, para a alegria de todos os alunos presentes.
Entre os garotos presentes estava Marcos Nastrini. Ele foi um dos sortudos que conseguiu acompanhar o treino da Seleção Brasileira e...
Autógrafos Copa de 1958 (1958), de Acervo Marcos Tulio NastriniMuseu do Futebol
...recolher no seu caderninho de escola a assinatura da maioria dos jogadores e da comissão técnica de 1958. A folha de papel, agora um verdadeiro acervo histórico do futebol brasileiro, foi trazida de Governador Valadares (Minas Gerais) ao Museu do Futebol em 2013 e compartilhada com o público durante a exposição temporária Futebol de Papel.
Se você perdeu a chance de conferir essa exposição naquela época, não perca a oportunidade de conhecer sua versão virtual aqui no Google Arts & Culture.
Despedida rumo ao... título!
Semanas mais tarde parte dos jogadores e da comissão técnica brasileira embarcaria para a Suécia, após uma breve passagem por Araxá, e voltaria de lá com o primeiro e mais importante trofeu de um campeonato de futebol: a taça Jules Rimet. Mais do que esse título, o nosso futebol ficaria mundialmente reconhecido e a pequena cidade de Poços de Caldas, registrada para sempre na memória do futebol nacional.
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Diretor Executivo | Eric Klug
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Diretora de Conteúdo | Daniela Alfonsi
Exposição virtual "A Seleção em Poços de Caldas"
Acervo fotográfico gentilmente cedido por Silvia Herrera.
Pesquisa e Textos | Aira Bonfim
Curadoria de imagens e legendagem | Ligia Dona e Julia Terin
Edição Google | Aira Bonfim
Revisão e Edição final | Camila Aderaldo e Daniela Alfonsi
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Pesquisadora – Aira Bonfim
Assistente de Pesquisa – Ligia Dona
Bibliotecário – Ademir Takara
Assistentes de Documentação – Julia Terin e Dóris Régis
Estagiários – Marcus Ecclissi e Everton Apolinário
Créditos
Acervo Silvia Herrera
Acervo Marcos Nastrini
Pesquisa em periódicos: Folha de Poços e Diário de Poços de Caldas