«Em toda a Cidade, naõ há sitio nem mais ameno, nem mais
agradavel; porque álem da sua bella posição adornada de regulares Edificios,
gozaõ os olhos de hum só golpe, vista de Cidade, de Mar, Rio, Navios, Montes,
Campinas, Quintas,e Palacios.» (COSTA 1789: 33).

Passeio e Paredão das Virtudes I (2017) de Laura Fabíola MarquesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

PORTO DE VIRTUDES

Na cidade do Porto, a área inscrita na Lista de Património Mundial da UNESCO (1996) tem cerca de 90ha, correspondendo, aproximadamente, ao espaço delimitado pela muralha medieval do século XIV, incluindo ainda a Ponte D. Luís I e o Mosteiro da Serra do Pilar, no concelho de Vila Nova de Gaia. Ao valor multissecular do tecido urbano (fruto de uma complexidade topográfica onde se articulam ruas, travessas, becos, vielas, escadas, praças e largos) e arquitetónico (seja ele de natureza habitacional ou monumental), acrescentam-se valores culturais acumulados ao longo de sucessivas épocas, reflexo de uma articulação entre a organização social, a economia e a geografia da cidade, mantendo uma estável e coerente relação com o ambiente urbano e o ambiente natural.

Neste contexto, o lugar urbano das Virtudes destaca-se pela permanência de um perfil muito antigo. O lugar apresenta-se como um luminar exemplo do fenómeno do desenvolvimento urbano. A construção de uma frente urbana encostada ao exterior da muralha é um fenómeno frequente nas cidades europeias de configuração medieval, cuja capacidade de albergar mais moradores e novos equipamentos no perímetro amuralhado chega a um limite, obrigando a novas soluções de expansão. Por outro lado, esta expansão desenvolve-se, frequentemente, em terrenos ocupados anteriormente por quintas periurbanas destinadas à produção e/ou de recreio como este caso exemplifica. Mas a excecionalidade do caso das Virtudes reside na sobrevivência da configuração prístina das suas caraterísticas geomorfológicas. Mantém-se hoje uma mancha de ocupação humana que ao longo dos séculos não sofreu mutações que alterassem significativamente as encostas e o vale por onde corria o Rio Frio, afluente da bacia hidrográfica do Douro.

Quinta das Virtudes I. (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

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A zona urbana das Virtudes é um exemplo significativo do aproveitamento das condições naturais do território.

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Esta zona representa uma aprazível mancha verde no contexto da urbanização atual, não tendo sido completa nem profundamente alterada com o passar do tempo.

Passeio das Virtudes I. Frente Urbana (2017) de Laura Fabíola MarquesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O valor patrimonial intrínseco das Virtudes favoreceu, sem dúvida, o seu atual uso: a frente urbana que se moderniza com novos usos e equipamentos e um jardim público com programação cultural.

A Recomendação da UNESCO para as Paisagens Históricas Urbanas (2011) reconhece e promove o caráter dinâmico das cidades vivas.

PortoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O Passeio das Virtudes é um lugar de descompressão da malha urbana no centro da cidade do Porto, exposto à luz de sul e poente e onde o olhar disfruta a paisagem com características únicas.

Fonte e Quinta das Virtudes (2017) de Laura Fabíola MarquesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A Recomendação para as Paisagens Históricas Urbanas da UNESCO (2011) entende a paisagem histórica urbana como resultante da estratificação histórica de valores culturais e naturais.

Casa da Quinta das Virtudes I. Fachada posterior. (2017) de Ana CampelosFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A Quinta das Virtudes

A Quinta das Virtudes, localizada na freguesia de Miragaia, remonta ao século XVII e é hoje sede da Árvore - Cooperativa de Atividades Artísticas. Originalmente quinta de recreio e de exploração agrícola, é de realçar o elevado valor paisagístico que a sua implantação sobranceira ao rio Douro propicia. Os espaços da quinta albergaram diversos usos ao longo dos séculos, consolidando assim um testemunho de transformações e permanências. A Quinta das Virtudes deve ser entendida como um conjunto constituído por vários elementos, como a Casa das Virtudes (zona de habitação principal), os anexos (construídos contíguos à casa) e o jardim desenvolvido em socalcos, outrora destinados, na sua maior parte, à produção agrícola. Com estas construções devem ser relacionados outros equipamentos urbanos, como a Rua e o Paredão dos Fogueteiros e a Fonte das Virtudes, que dão testemunho dos demais usos.

Casa da Quinta das Virtudes II. Fachada principal (2017) de Marisa Pereira SantosFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A casa da Quinta das Virtudes foi edificada em 1767 por encomenda de José Pinto de Meireles, e da sua mulher D. Francisca Clara de Azevedo Aranha e Fonseca.

Casa da Quinta das Virtudes III. Atentado à bomba (7 de janeiro de 1976). (1976) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O «Primeiro de Janeiro» noticia que a causa do atentado poderá estar relacionada com as reuniões que a Árvore terá recebido da Comissão Antifascista de Apoio aos Revolucionários Presos (CAARP).

Cooperativa Árvore I. Oficina de Cerâmica de Cooperativa ÁrvoreFaculdade de Letras da Universidade do Porto

As oficinas de cerâmica e de litografia da Cooperativa Árvore mantêm ativa uma produção artística contemporânea singular que a diferencia pela qualidade dos materiais produzidos.

Cooperativa Árvore II. Sala de Exposições de Cooperativa ÁrvoreFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A remodelação do espaço interior da Casa que acolhe a Árvore - Cooperativa de Atividades Artísticas dá-se nos anos de 1980, com projeto do arquiteto Alcino Soutinho.

Casa da Quinta das Virtudes IV. Pedra de Armas (pormenor) (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A Casa da Quinta das Virtudes foi ocupada pela família de Joaquim de Azevedo Sousa Vieira da Silva Albuquerque, professor na Academia Politécnica do Porto, por várias gerações.

Mapas das obras públicas que estiveram em ação neste presente ano de 1789 (1767) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Na Casa da Quinta das Virtudes foi erigida uma capela com invocação a Nossa Senhora da Conceição e Jesus, Maria e José, chegando a ser de culto público.

«Planta dos terrenos necessários (...) para alargamento da Rua dos Fogueteiros» (1869) (2017) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A capela da Casa da Quinta das Virtudes foi destruída em 1872 para alargamento da Rua dos Fogueteiros e edificação do novo Mercado do Peixe.

Esta Planta (1869) mostra um edifício religioso adossado à Casa, no alinhamento da via pública, em terreno que virá a ser expropriado para cumprir o objetivo de alargar esta artéria urbana.

Casa e da Quinta das Virtudes I (2017) de Joana Isabel DuarteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O inegável valor paisagístico da Quinta das Virtudes reside no terraceamento das margens do Rio Frio.

Jardim das Virtudes I (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Em terrenos de elevado pendor, é a construção de socalcos que permite a transformação de uma difícil orografia para a realização da atividade agrícola.

Jardim das Virtudes II (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Jardim das Virtudes III (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A Casa da Quinta das Virtudes possuía maior impacte quando observada a partir do rio Douro, a principal entrada da cidade ao tempo da sua construção.

Casa da Quinta das Virtudes II (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Dois lances de escada enfatizam a escala e o aparato desta fachada, acentuando o domínio sobre a unidade de exploração.

Casa da Quinta das Virtudes III (2017) de Joana Isabel DuarteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A erudição da arquitetura é percetível na escala e na perfeita adequação ao local de implantação, mas também é visível no trabalho de cantaria, no alpendre e na escadaria.

Projeto de Casa para a Quinta das Virtudes (1750/1799) de José Francisco de PaivaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Neste projeto destaca-se a linguagem neoclássica que se identifica no aparelho rusticado em edifícios como o Hospital de Santo António, a Cadeia da Relação e a Academia Politécnica.

Jardim das Virtudes IV. Escultura “A meio entre isto e aquilo” (Vítor Ribeiro, 2013) (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Nas palavras do artista trata-se de uma “escultura para usar”.

Jardim das Virtudes V. Escultura “Roda” (Vítor Ribeiro, 2013) (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A peça metamorfoseia-se na representação da textura de um tronco de árvore, através da incisão de um padrão linear no granito, perpetuando as formas naturais presentes no local, o Jardim das Virtudes.

Jardim das Virtudes VI (2017) de Ana CampelosFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O Horto das Virtudes

A geomorfologia dos espaços sempre condicionou a sua ocupação e utilização pelo Homem. Nas Virtudes, aproveitando as encostas encaixadas do vale do rio Frio, soalheiras e férteis, foram surgindo socalcos cultivados: campos, pequenas hortas, e quintas. Entre estas destacou-se, no século XVIII, a Quinta das Virtudes. Foi neste espaço que, no século seguinte, prosperou o Horto, propriedade de José Marques Loureiro (1830-1898). Sob o seu impulso, tornou-se um dos estabelecimentos hortícolas de maior destaque no país, chegando a atingir projeção internacional e tendo arrecadado inúmeros prémios em exposições de plantas. O crescente sucesso do negócio levou ao investimento em novos viveiros, na cidade do Porto e na Maia, bem como à abertura de uma sucursal em Lisboa. Entre os seus inúmeros visitantes e clientes contava-se a família real portuguesa. A partir de 1890, o Horto das Virtudes passaria a chamar-se «Real Companhia Hortícolo-Agrícola Portuense», sendo, então, seu diretor Jerónimo Monteiro da Costa. Por essa altura dera-se um grande impulso nos jardins do Porto. Muitos deles terão recebido o contributo de plantas deste Horto, ainda que seja difícil identificá-las. Não foi possível, até ao momento, precisar a data e as circunstâncias que levaram ao encerramento do Horto das Virtudes.

Jardim das Virtudes VII (2017) de Laura Fabíola MarquesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A transformação paisagística desenvolvida pela CMP em 1999, visou a sua inserção na vida urbana da cidade.

Estufas do Horto das Virtudes (1900/1910) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

José Marques Loureiro introduziu em Portugal um grande número de espécies, transformando-se o Horto das Virtudes num verdadeiro campo experimental de aclimatação de plantas.

“Várias perspetivas dos jardins do horto. Cultivo e rega das plantas, nos jardins e nas pequenas estufas.” [190?] (1900/1910) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

«Entrando pela porta que dá para a rua dos Fogueteiros, analogas belezas se deparam logo […] Uma beleza, toda esta surpreendente vegetação exótica!» (VIEIRA 1887: 270).

Entrada principal do Horto das Virtudes com as armas reais (1900/1910) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Entre os inúmeros visitantes e clientes do Horto das Virtudes contava-se a família real portuguesa. Em 1890, o Horto passaria a designar-se «Real Companhia Horticolo-Agrícola Portuense».

Jornal de Horticultura Prática (1870/1892) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Marques Loureiro criou o Jornal de Horticultura Pratica, publicado entre 1870 e 1892, uma verdadeira obra de referência no campo da horticultura.

Jardim das Virtudes VIII. Ginkgo Biloba (2017) de Carolina FurtadoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A Ginkgo Biloba das Virtudes é a maior árvore desta espécie que se conhece em Portugal, com 35,5 m de altura, e, provavelmente, a mais antiga.

Jardim das Virtudes IX (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Vistos como «monumentos vivos», sujeitos a princípios de salvaguarda próprios pelo seu caráter perecível, pretende-se estimular o interesse pelos Jardins Históricos.

Passeio e Paredão das Virtudes II (2017) de Lúcia TeixeiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Virtudes e Obras Públicas

As intervenções urbanas realizadas no período ”dos Almadas” (1763-1804) procuraram acima de tudo definir novas linhas de expansão urbana, modernizar a malha urbana de origem medieval e criar novos e significativos eixos de circulação, ligando a zona ribeirinha do Porto às portas da muralha fernandina, que por então se monumentalizaram. Além disso, identifica-se uma continuidade de uma das mais interessantes preocupações urbanísticas dos Filipes e que foi o do reordenamento dos espaços públicos, conforme atestam as primeiras alamedas – Olival, Hortas e Batalha -, com a plantação de árvores e a instalação de bancos de repouso, a par da criação de praças públicas, da renovação das calçadas e no abastecimento de águas e melhoria dos cais de acostagem. Assim, a primeira zona verde criada fora da cidade muralhada foi a Alameda da Cordoaria (1611). Um aspeto que caracteriza a intervenção da Junta das Obras Públicas (1789-1892) na cidade do Porto, prende-se com o arranjo dos jardins públicos e especialmente os organizados em jeito de varandas para o rio, como o das Virtudes.

Passeio e Paredão das Virtudes III (1801/1900) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

No séc. XIX a intenção de melhorar o espaço urbano é materializada no projeto de nivelamento da Calçada das Virtudes, que liga o Passeio das Virtudes e a antiga cidade intramuros à Fonte das Virtudes.

Paredão e Casa da Quinta das Virtudes (2017) de Vera BarbosaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A implantação do Paredão das Virtudes, resultante de atuação da Junta das Obras Públicas, passa a coexistir lado a lado com uma obra de caráter privado e erudito, como a Casa das Virtudes.

Fonte da Quinta das Virtudes I (2017) de Ana Isabel LinoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

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O risco da fonte das Virtudes é atribuído a Pantaleão de Seabra e Sousa (século XVII).

Fonte da Quinta das Virtudes II (2017) de Andréa M. DiogoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Estas carrancas com forma de «cabeça de bestas», caracterizam-se por um gosto exótico e uma linguagem decorativa dita maneirista e terão sido inspiradas em tratados do século XVI.

Fonte da Quinta das Virtudes III (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Naquilo que é hoje a cidade do Porto existe um considerável número de nascentes naturais e mananciais que abastecem poços e fontes, muito embora se encontrem encanados.

Passeio e Paredão das Virtudes IV (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A conceção do Passeio criou um espaço privilegiado para a construção urbana.

Apesar da inserção de elementos mais contemporâneos, mantém-se neste local uma paisagem urbana que conserva ainda o seu caráter original.

Passeio das Virtudes III. Escultura “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse” (Gustavo Bastos, 1969) (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Datada de 1969 e da autoria de Gustavo Bastos, esta escultura partilha o espaço ajardinado com outra obra do mesmo autor, intitulada “Serpente”.

Palácio da Justiça I (2017) de Vera BarbosaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Passeio das Virtudes e área urbana envolvente

O Morro da Vitória teve os primeiros sinais de urbanização programada após a determinação régia (1396) de D. João I (r. 1385-1433) de instalação em espaço intramuros daquela que foi a chamada Judiaria Nova. A evolução da antiga colina do Olival demonstra bem que, para compreender os lugares urbanos, é fundamental atentar às pré-existências, sejam elas naturais ou já resultantes da ação antrópica. A importância alcançada por esta zona a partir do período filipino tornou-a atrativa à fixação de famílias nobres, cuja presença se identifica pelas casas nobilitadas com pedras de armas, que marcam a paisagem urbana, mas sobretudo pela preocupação com a criação de espaços lúdicos, como os espaços verdes que se começaram a formar na Cordoaria e que, posteriormente, culminou no aparecimento do Passeio das Virtudes. Pela permanência das arquiteturas tradicionais, em consonância com a manutenção de formas urbanas resultantes da primeira consolidação da cidade extramuros, a área das Virtudes tem um grande potencial habitacional mas também turístico, estando igualmente próxima de locais de referência. As estruturas habitacionais do Passeio das Virtudes revelam algum grau de erudição, quer pelo desenho quer pelos materiais, nomeadamente a cantaria lavrada ou o azulejo, que graças aos seus variados padrões e cores completam o já singular ambiente lumínico do local, proveniente da sua exposição solar e da quantidade de árvores que filtram a luz e projetam as suas sombras na fachada.

Rua dos Fogueteiros/Rua de Azevedo de Albuquerque I (2017) de Laura Fabíola MarquesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Os edifícios adossados à Casa das Virtudes podem ter tido relação com a Quinta, albergando a Roda dos Expostos e o Colégio Podestá.

Rua dos Fogueteiros/Rua de Azevedo de Albuquerque II. Paredão (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Segundo Horácio Marçal, o arco central possuía uma fonte dita «dos Fogueteiros», cuja água, que caía num espaçoso tanque construído em 1843.

Toque para explorar

A Casa da Quinta das Virtudes teve alguns edifícios anexos. Existe registo da transferência provisória da Roda dos Expostos, em 1825, para o prédio nº 4 da Rua dos Fogueteiros.

Rua dos Fogueteiros/Rua de Azevedo de Albuquerque III. Edifícios Anexos à Casa da Quinta das Virtudes (2017) de Joana Isabel DuarteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A Roda instalou-se neste local mediante o pagamento de uma renda anual.

Rua dos Fogueteiros/Rua de Azevedo de Albuquerque IV. Fábrica Electra (planta, alçados e cortes) (1901) de Fábrica ElectraFaculdade de Letras da Universidade do Porto

No ano de 1901, Luís Couto dos Santos, engenheiro civil, fundou a Fábrica Electra, especializada em produção de material hospitalar, movida a eletricidade.

Toque para explorar

A área do Passeio das Virtudes passou por várias alterações ao longo dos séculos.

Passeio das Virtudes IV (2017)Faculdade de Letras da Universidade do Porto

As habitações das Virtudes obedecem a uma arquitetura que se integra na paisagem, que a humaniza, contribuindo para a harmonia visual da paisagem histórica urbana.

Passeio das Virtudes V. Frente urbana (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Apesar das transformações ocorridas, os materiais utilizados na construção são essencialmente os mesmos numa longa diacronia: a pedra granítica, a madeira, os metais e elementos cerâmicos.

Passeio das Virtudes VI. Frente urbana (2017) de Lúcia TeixeiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Durante o séc. XIX as fachadas simplificam-se, revestindo-se de azulejos, o que atribui ao pano murário um maior enobrecimento, juntamente com os trabalhos de cantaria aplicados às molduras dos vãos.

Passeio das Virtudes VII. Frente urbana (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

As sacadas, no primeiro piso assentam sobre mísulas graníticas em volutas e que nobilitam, pelo seu caráter erudito, estas arquiteturas.

Passeio das Virtudes VIII. Frente urbana (2017) de Lúcia TeixeiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O muro da Escola Artística e Profissional Árvore encontra-se adossado a um prédio da mesma cor, com porta central e duas longas janelas laterais com grades.

Rua Dr. Azevedo de Albuquerque I. Projeto para a casa nº60 (A.H.M.P., LO-1056-1922-297). (1922) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O desenho da casa nº 60 da Rua Dr. Azevedo de Albuquerque, cuja requerente é Maria Madalena Teixeira Lima mostra-nos configurações muito semelhantes às executadas e características das Virtudes.

Passeio das Virtudes IX. Frente urbana. (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

As cantarias são retas e os elementos de verticalidade dão lugar a elementos em pedra horizontais, dos quais a cornija, a sacada e a balaustrada em ferro rematadas por dois jarrões.

Virtudes Promenade X. Window detail. (2017) de Ana Clarisse LopesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Os metais, principalmente o ferro, substituíram alguns usos da madeira, sendo aplicados nas grades de janelas de sacada, canalizações e elementos decorativos.

Casa da Família Jordão Ferreira da Silva de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Os elementos decorativos, como as estátuas, as taças florejantes e o muro são datados do século XVIII A casa é hoje, propriedade da Cooperativa Árvore.

Casa da Família Jordão Ferreira da Silva / Escola Artística e Profissional Árvore (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A inserção de ações de Street Art dão um novo dinamismo aos panos murários da cidade do Porto.

Identificam-se já murais comissionados pelas próprias autarquias ou instituições, onde se começam a notabilizar artistas que os assinam e afirmam linguagens muito próprias.

Passeio das Virtudes XI. Grafitti (Mesk). (2017) de Ana Clarisse LopesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Através de artistas como Hazul ou Mesk, a chamada Street Art começa a ser considerada uma prática artística reconhecida e cada vez mais valorizada por vários tipos de público.

Toque para explorar

O desenvolvimento destas artérias e as suas características diferenciadoras têm de ser compreendidas na sua relação com a pré-existente Judiaria Nova, com a topografia do local.

Rua Dr. Barbosa de Castro I (2017) de Vera BarbosaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

As últimas nove habitações do Passeio das Virtudes tiveram ligação direta com a rua Dr. Barbosa de Castro, sendo que o primeiro andar, voltado para o Passeio, corresponde ao rés-do-chão da outra rua.

Rua das Taipas I. Casa da família Pinto Leite (2017) de Vera BarbosaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A importância alcançada por esta zona a partir do período filipino tornou-a atrativa à fixação de famílias nobres, cuja presença se identifica pelas casas nobilitadas com pedras de armas.

Rua Francisco da Rocha Soares e Rua das Virtudes (2017) de Ana Patrícia GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Para a renovação urbanística da colina do Olival, em muito contribuíram as novas artérias, cuja disposição foi determinada pelas difíceis condições do local.

Toque para explorar

O traçado da rua das Taipas foi condicionado pela existência da muralha medieval e pela presença da judiaria implantada no local a partir do século XIV.

Rua Dr. Barbosa de Castro. Edifício da Escola Árvore, antiga residência da família Jordão. (2017) de Vera BarbosaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Estes edifícios resultaram da aglomeração dos habituais lotes estreitos ou refletiram a manutenção de um particionamento que tinha por base espaços irregulares que foram posteriormente urbanizados.

Rua das Virtudes. Clarabóia do edifício do antigo Clube dos Ingleses. (2017) de Lúcia TeixeiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Sob o ponto de vista da organização interna da casa de habitação tipo da cidade do Porto destaca-se a entrada lateral que se articula com escada central de dois lanços, encimada por claraboia.

Rua das Taipas III (2017) de Vera BarbosaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A proximidade do Tribunal e Cadeia da Relação também pesou na decisão régia de construção do jardim, geométrico e racional, ao qual se pode aceder através da Rua das Taipas e da Rua Dr. Barbosa de Castro.

Rua Dr. Barbosa de Castro II (2017) de Vera BarbosaFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Na antiga Rua do Calvário, hoje Rua Dr. Barbosa de Castro, encontramos a casa onde morou o romancista do século XIX, Almeida Garrett (1799-1854).

Casa e Quinta das Virtudes II (2017) de Lúcia TeixeiraFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A Rutura do Palácio da Justiça

No espaço hoje marcado pelo Jardim da Cordoaria foram várias as construções existentes desde o século XVII: capelas, armazéns de cereais, hospitais militares, hospícios, mercados, até ao actual edifício do Palácio da Justiça que se destaca na paisagem pela sua monumental arquitectura e pelo facto de ter criado uma rutura urbana entre a zona das Virtudes e uma cota mais elevada da cidade. O espaço ocupado hoje pelo monumental edifício do Palácio da Justiça denominava-se anteriormente de Sítio do Calvário Novo. A construção deste edifício veio provocar uma profunda alteração no local, quer a nível construtivo quer a nível das vivências da cidade. O Palácio da Justiça, iniciado em 1958 e inaugurado em 1961, localiza-se no hoje denominado Campo dos Mártires da Pátria na freguesia de Miragaia. Tanto o projeto arquitetónico como o decorativo são da autoria do arquiteto Raul Rodrigues Lima, salientando-se assim todo um paradigma de imagem solene e grandiosa associada à riqueza histórica e cultural da cidade e à função do edifício.

Palácio da Justiça II (2017) de Joana Isabel DuarteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O Palácio da Justiça destaca-se na paisagem urbana pela sua monumental arquitetura e pelo facto de ter criado uma rutura urbana entre a zona das Virtudes uma cota mais elevada da cidade.

Palácio da Justiça III. Fachada principal de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A fachada principal do Palácio da Justiça é valorizada por um pórtico de dez pilares e enfatizada por uma estátua da autoria do escultor Leopoldo de Almeida, que representa a alegoria da Justiça.

Casa e Quinta das Virtudes III (2017) de Joana Isabel DuarteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A escala e monumentalidade do edifício do Tribunal impõem-se no tecido urbano, através da sua fachada principal virada ao Jardim da Cordoaria.

Mercado do Peixe I. Fachada posterior (1869/1958) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A partir da Rua dos Fogueteiros, este edifício impunha-se pela sua escala ajustada ao terreno, materializando-se na conceção de diversos patamares.

Mercado do Peixe II. Fachada principal (1869/1958) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

No espaço voltado à Cordoaria encontravam-se instalados importantes edifícios que cumpriram diversas funções públicas e que foram demolidos a fim de se ampliar o Mercado do Peixe.

Mercado do Peixe III. Fachada principal (1869/1958) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O risco do Mercado do Peixe é da autoria do Engenheiro Civil Gustavo Adolfo Gonçalves de Souza, que colaborou igualmente nos edifícios do Palácio da Bolsa e da atual Reitoria da Universidade do Porto.

Jardim da Cordoaria. Escultura “Flora” (Teixeira Lopes) e edifício da Reitoria da Universidade do Porto (2017) de Marisa Pereira SantosFaculdade de Letras da Universidade do Porto

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Inserida no Jardim da Cordoaria, a estátua em bronze, representativa da Ninfa Flora, da autoria de Teixeira Lopes foi concebida enquanto memorial a José Marques Loureiro.

Hospício de Santo António da Cordoaria (1869/1958) de Arquivo Histórico da Casa do InfanteFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Antes da construção do Mercado do Peixe, existiu neste local da Cordoaria o Hospício de Santo António da Cordoaria, no qual se instalaram os frades antoninos do Vale da Piedade em 1730.

Centro Histórico do Porto. Panorâmica. (2017) de Carolina FurtadoFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Estratigrafias e Acumulações Urbanas

Segundo a Convenção para a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural (UNESCO, 1972) os conjuntos são valorizados pelo facto de integrarem um grupo de construções que, em virtude da sua arquitetura, unidade ou integração na paisagem têm valor universal excecional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência (Art. 1º). A inscrição deste último na lista do Património Mundial da Unesco fundamentou-se no valor universal excecional do tecido urbano do seu centro histórico, cujo valor estético testemunha um desenvolvimento urbano que remonta, de forma muito particular, às épocas romana, medieval e almadina (século XVIII). A riqueza e a variedade da arquitetura civil do centro histórico do Porto traduzem os valores culturais das mais sucessivas épocas, reflexo de uma perfeita adaptação à estrutura social e geográfica da cidade, mantendo ao longo dos séculos uma estável e coerente relação entre o ambiente urbano e o ambiente natural. É no dinamismo do tecido social e institucional que encontramos a sua garantia de sobrevivência enquanto centro histórico. A cidade do Porto faz-se de estratigrafias que desenham uma particular paisagem histórica urbana que, tal como afirma a Recomendação para as Paisagens Históricas Urbanas da UNESCO (2012) deve incidir sobre a proteção do património cultural e natural, visando sobretudo a preservação da qualidade do ambiente humano, potenciando o uso produtivo e sustentado dos espaços urbanos, reconhecendo ao mesmo tempo o seu carácter dinâmico e promovendo a sua diversidade social e funcional (Art. 11º). Dando resposta às recomendações da doutrina internacional mais recente na matéria, a cidade do Porto, no seu Centro Histórico e particularmente nas Virtudes, a preservação da sua Paisagem Histórica Urbana deve, pois, fundar-se numa relação equilibrada e sustentável entre o ambiente natural e urbano, entre as necessidades do presente, as necessidades das gerações futuras e o legado do passado (UNESCO 2012: Art. 11º).

Passeio das Virtudes XII (2017) de Laura Fabíola MarquesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Com o Passeio das Virtudes, à cota alta, a cidade abre-se a ocidente, à foz do rio Douro, expansão que os primeiros anos do século XIX irão consolidar.

Passeio das Virtudes e Ponte da Arrábida. (2017) de Vera GonçalvesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Créditos: história

EXHIBITION COORDINATORS:: Lúcia Rosas (FLUP/CITCEM) e Maria Leonor Botelho (FLUP/CITCEM)

SCIENTIFIC COMMITTEE: Hugo Barreira (FLUP/CITCEM)Lúcia Maria Cardoso Rosas (FLUP/CITCEM) e Maria Leonor Botelho (FLUP/CITCEM)

CURATORSHIP: Hugo Barreira (FLUP/CITCEM)Lúcia Maria Cardoso Rosas (FLUP/CITCEM) e Maria Leonor Botelho (FLUP/CITCEM)

TEXTS: Ana Campelos, Ana Clarisse Lopes, Ana Isabel Lino, Ana Patrícia Gonçalves, Andréa M. Diogo, Carolina Furtado, Clarice Ausquia Leão, Cláudia Quaresma, Francisca Pires de Almeida, Joana Isabel Duarte, Isabel Rebelo da Silva, Juliana Moura, Laura Fabíola Marques, Lúcia Teixeira, Maria Moura, Mariana Carvalho, Marisa Pereira Santos, Rodrigo Magalhães, Vera Barbosa e Vera Gonçalves.

PHOTO CREDITS: Texts authors e Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas.

PROJECTS AND CARTOGRAPHY: Arquivo Histórico Municipal do Porto/Câmara Municipal do Porto e Associação Comercial do Porto.

IMAGE PRODUCTION: Laura Fabíola Marques e Marie Eva Rosiere

TRANSLATION: Tânia Vasco

ORGANIZATION: FLUP

PARTNERSHIP: UP, CITCEM, Árvore - Cooperativa de Actividades Artísticas e Câmara Municipal do Porto.

SPONSORS: Associação Comercial do Porto e UNICER.

QUOTED BIBLIOGRAPHY
Alves, Joaquim Jaime B. Ferreira (1997) – “A arquitectura da água : chafarizes e fontes do Porto dos séculos XVII e XVIII” In Poligrafia - nº6, p. 45-62.
BARREIRA, H.; BOTELHO, M.L.; Rosas, L. (coord.) (2017) - Jardim e Passeio das Virtudes. Uma Paisagem Histórica Urbana. Porto: Universidade do Porto. Faculdade de Letras. CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória.
MARÇAL, Horácio (1961, fevereiro). A Rua dos Fogueteiros, O Tripeiro. Porto. Série VI, ano I, nº2, pp. 169-173.
Oliveira, Ernesto Veiga de (1992) - Arquitectura tradicional portuguesa. 1a ed . Lisboa: Dom Quixote.
TEIXEIRA, Diogo Emanuel Pacheco (2011). O Abastecimento de Água na cidade do Porto nos séculos XVII e XVIII. Aquedutos, Fontes e Chafarizes. Porto, Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Dissertação de Mestrado.
UNESCO (1972) – Convenção para a salvaguarda do Património Mundial, Cultural e Natural. Acessível em: https://goo.gl/5kro6t
UNESCO (2012) - Recomendação sobre as Paisagens Históricas Urbanas. Acessível em: https://goo.gl/qcaUWQ

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