Este díptico em relevo, destinado à devoção privada, é um dos muitos produzidos nas oficinas de Paris, a partir do século XIV, fruto da colaboração do escultor com o pintor e o ourives.
Conservando ainda restos da policromia original, os diversos registos são separados entre si por molduras ornamentadas com rosetas. Neste exemplar são representadas cenas da Paixão de Cristo, iniciando-se as representações, no registo inferior esquerdo, com as cenas da Flagelação e de Cristo a caminho do Calvário. A narração prossegue, no registo superior esquerdo, com a cena da Crucifixão e continua, no registo superior direito, com a Descida da Cruz. Por fim, no registo inferior direito, a Deposição no Túmulo.
Os dípticos e os trípticos em marfim serviam à Igreja como meio de evangelização, numa época em que o livro e a leitura eram privilégio de uma minoria. Com efeito, para além de facilmente transportáveis, estes relevos continham um extraordinário valor pedagógico revelado através de uma linguagem pictórica onde as cenas do Antigo e Novo Testamentos eram contadas e facilmente memorizadas.