Rendas de bilros. Tradição e património

São as rendas que, diáfanas, quando cobrem, descobrem, criando todo o<br><br>jogo dos subentendidos (…).

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

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Rendas de Bilros. Tradição e Património. (2015)Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Toque para explorar

Crianças a aprender Renda de Bilros, de Arquivo Municipal de Vila do CondeFaculdade de Letras da Universidade do Porto

RENDAS, PATRIMÓNIO MÚLTIPLO DE TÉCNICAS, MODAS E IMAGENS.

As rendas, desde que existem, constituem uma tradição cultural marcante dentro do contexto europeu. Embora não seja possível datar com precisão o momento em que estas surgiram, os testemunhos iconográficos apontam para a transição do século XV para o século XVI, quando se foram autonomizando técnicas de ornamentação têxtil que levaram ao aparecimento das rendas. Julga-se que o étimo da palavra “renda” possa ser originária da palavra catalã «randa», de origem saxónica, cujo significado é orla e bordadura. Aperfeiçoadas em pleno Renascimento, as rendas, quer de bilros, quer de agulhas fazem parte de um património múltiplo de técnicas, modas e imagens.

A nível nacional, as rendas de bilros e as suas rendilheiras apresentam uma história que remonta ao século XVII, nas freguesias de Vila do Conde, Azurara e Árvore, com uma predominância clara na primeira, onde a sua existência se comprova desde o início do mesmo século. Logo após a sua instalação e difusão, as rendas de bilros em Vila do Conde tiveram um papel relevante na economia local. Contudo, só no século XVIII é que se pode aferir toda a importância que a manufatura de rendas havia entretanto adquirido no Norte do país, e em Vila do Conde, em particular.

Porém, as últimas décadas do século XIX vieram mostrar uma realidade completamente diferente. Estes anos apresentam-se como o início de um declínio para a manufatura das rendas em Vila do Conde. Em resposta a esta crise na produção das Rendas, criou-se no século XIX a Escola de Rendas de Vila do Conde, ainda hoje em atividade. O agudizar da crise ao longo de todo o século XX levou ainda à origem da Feira de Artesanato de Vila do Conde, realizada desde 1978. A eminente extinção do centro rendeiro de Vila do Conde conduziu à criação da Associação para a Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde, em 1984. Por fim, as acções de sensibilização e a tomada de consciência da situação de risco do património das rendas de bilros de Vila do Conde culmina, em 1991 com a criação do Museu das Rendas de Bilros de Vila do Conde. 

Peça em Execução (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A realização da renda de bilros recorre, essencialmente, a uma linha 100% de algodão.

Os materiais evoluíram e actualmente é possível realizar a renda de bilros recorrendo a materiais contemporâneos.

Utensílios no Museu das Rendas de Bilros (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A realização das Rendas de Bilros de Vila do Conde requer das rendilheiras um enorme domínio da técnica, mas também dos materiais e utensílios.

Os principais são: os bilros, os piques, as linhas, os alfinetes e as agulhas.

Alfinetes (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Os alfinetes servem para segurar as linhas a serem trabalhadas pelos bilros, conforme o desenho dos piques, para que estas construam a malha da renda.

A rendilheira a trabalhar (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Apesar de poderem usar uma centena de bilros na execução de uma renda, as rendilheiras apenas trabalham com quatro de cada vez.

A rendilheira de Vila do Conde nem sempre usa piques e é através da sua experiência que vai pregando os alfinetes para executar a renda.

Quatro bilros em duas mãos (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A designação de mestra servia para nomear uma rendilheira dona de uma oficina produtora de rendas, que ensinava as suas aprendizes e trabalhadoras.

Rendas da Rua, de Arquivo Municipal de Vila do CondeFaculdade de Letras da Universidade do Porto

A expressão, «Rendas da Rua», poderá ter origem no facto das rendilheiras trabalharem à porta de suas casas, quase na rua.

Bordo (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

O “bordo”, aqui representado, é o elemento que contorna os motivos, conferindo-lhes realce.

Rendas para o Mundo (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Projeto «Rendas para o Mundo», uma vela em Renda de Bilros trabalhada por 150 rendilheiras e 8 kg de linha.

Este projeto é resultado do esforço e dedicação de uma população que não esquece que tradição é também património.

Aplicação em chapéu (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

As possibilidades do uso da renda de bilros são muito grandes.

Vestido de Noiva (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Os bordados e rendas foram introduzidos no vestuário desde há muito, saltando por entre os tecidos conferindo elegância e delicadeza às indumentárias.

No design de moda, a renda surge cada vez mais frequentemente e os vestidos de noiva mais ou menos tradicionais não são exceção.

As mãos gastas (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

AS MÃOS GASTAS

As rendas de bilros de Vila do Conde representam uma realidade emblemática, que resulta de séculos de tradição na produção das mesmas. Contudo, na transição do século XIX para o século XX a massificação e globalização da cultura tem exercido um papel opressor nas artes locais e tradicionais.

Todas as instituições dedicadas à proteção e dinamização das rendas de bilros de Vila do Conde ajudaram a manter viva a tradição das rendas. Contudo, a proliferação da indústria e a procura de lucros elevados nos finais do século XX levaram a uma rutura definitiva naquilo que foi durante séculos o ambiente de trabalho da rendilheira. 

Era comum verem-se as rendilheiras a trabalharam às portas de suas casas, voltadas para a rua e em conjunto, conferindo uma cor particular às ruas de Vila do Conde. Atualmente, estas ruas são apenas de passagem e algumas das mulheres que aqui trabalhavam estão agora integradas em indústrias. Assim, as rendas são maioritariamente feitas por encomenda a rendilheiras de mãos gastas, que ainda viram as suas mães e avós a trabalharem na soleira da porta.

Durante muito tempo as meninas aprenderam a arte da renda desde uma tenra idade, com a certeza de que esse seria o seu futuro. Atualmente, aquelas que frequentam a Escola de Rendas de Vila do Conde fazem-no para que esta tradição se prolongue pelas “linhas do tempo”.

Borboleta (2015), de Mónica NunesFaculdade de Letras da Universidade do Porto

Créditos: história

FICHA TÉCNICA
COORDENAÇÃO: Lúcia Rosas (FLUP) e Maria Leonor Botelho (FLUP)
COMISSÃO CIENTÍFICA: Lúcia Maria Cardoso Rosas (FLUP), Maria Leonor Botelho (FLUP) e Hugo Barreira (FLUP)
CURADORIA: Lúcia Maria Cardoso Rosas (FLUP), Maria Leonor Botelho (FLUP), Hugo Barreira (FLUP)
PRODUÇÃO: Maria Leonor Botelho (FLUP), Hugo Barreira (FLUP)
EQUIPA TÉCNICA: Ana Rita Moreira, Inês Bandeira, Mónica Nunes
AUTORES: Ana Rita Moreira, Inês Bandeira, Mónica Nunes
TRADUÇÃO: UNAPS | LETRAS
APOIOS: UNIVERSIDADE DO PORTO | FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO | DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS E TÉCNICAS DO PATRIMÓNIO/ FLUP TVU. UNIVERSIDADE DO PORTO |
CRÉDITOS DAS IMAGENS:
Mónica Nunes
Arquivo Municipal de Vila do Conde
PUBLICAÇÃO DAS IMAGENS AUTORIZADA POR:
Câmara Municipal de Vila do Conde
Museu das Rendas de Bilros de Vila do Conde
BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL:
ALMEIDA, Carlos A. Brochado de [coord.] – Rendas de Bilros de Vila do Conde. Vila do Conde: Associação para a defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde. Camara Municipal de Vila do Conde, 1994.
MAGALHÃES, Manuel Maria de Sousa Calvet de - Bordados e Rendas de Portugal. Lisboa: Direção-Geral do Ensino Primário, 1963.
RÊGO, Pedro; PIRES, Ana - Rendas de Bilros de Vila do Conde: Um Património a Preservar. Vila do Conde: Minerva, 2005.

Créditos: todas as mídias
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes. Portanto, ela pode não representar as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
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