Bugiada e Mouriscada de Sobrado: manifestação da cultura popular portuguesa

Sobrado, Valongo - Portugal

Toque para explorar

Na imagem está o Centro de Documentação da Bugiada e Mouriscada (CDBM), localizado na Rua de Campelo, Sobrado, Valongo - Portugal. Inaugurado em 2014, o CDBM é um espaço temático e interpretativo das festas de São João de Sobrado. A missão do CDBM é contribuir para o estudo, valorização e divulgação da Bugiada e Mouriscada, assim como preservar e salvaguardar o património material e imaterial associado à festividade.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

A Bugiada e Mouriscada, também conhecida como festa de São João de Sobrado, é uma manifestação que se enquadra nas festividades cíclicas populares e nas "festas ou danças de mouros e cristãos". Realiza-se anualmente no dia 24 de junho, na vila de Sobrado, (município de Valongo, noroeste de Portugal). A festa tem por base a lenda que narra a disputa entre mouros (Mourisqueiros) e cristãos (Bugios) pela figura milagrosa de São João Baptista.

Nesta imagem, os Bugios, liderados pelo Velho da Bugiada, dançam ao som de uma tocata de violas e violinos.

Festa da Bugiada e Mouriscada de Sobrado (2017), de Valongo, PortugalMuseu Virtual da Lusofonia

Vídeo produzido pelo Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS), da Universidade do Minho.

O CECS coordena o projeto "Festivity - Festa, património cultural e sustentabilidade comunitária", que tem por objetivos o estudo etnográfico e o desenvolvimento de um modelo crítico de registo, análise, interpretação e comunicação de manifestações festivas populares. A equipa integra nove investigadores e é coordenada por Rita Ribeiro.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Os Mourisqueiros são todos homens jovens e solteiros. Comandados pelo Reimoeiro, apresentam-se com trajes militares e espadim na mão. Destacam-se as barretinas emplumadas e os fatos listados. Dançam ao ritmo da "caixa" (um pequeno tambor), sempre aos pares (cerca de 20), em duas fileiras.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Quer Bugios, quer Mourisqueiros executam as suas danças em diversos locais de Sobrado, várias vezes durante o dia da festa, das 8 horas da manhã até cerca das 22 horas. As danças dos Mourisqueiros remetem para os movimentos da marcha militar, são vigorosas e disciplinadas e fisicamente muito exigentes. Cada dança dura cerca de 45 minutos.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Pelas 10 horas da manhã, decorre o "Jantar", refeição realizada por Bugios e Mourisqueiros em salas separadas, porque as regras rituais impedem que os dois grupos se cruzem antes da batalha ao final do dia. Durante o "Jantar", elementos de cada um dos grupos entrega ao rei dos adversários um cesto com restos de comida, num gesto de provocação que prenuncia o conflito.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

A Bugiada integra cerca de 600 elementos e qualquer pessoa - homem, mulher ou criança - pode participar. Os Bugios andam sempre mascarados e só podem retirar a máscara em alguns momentos, como é o caso do "Jantar".

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Nesta imagem podemos ver o Reimoeiro, na Dança de Entrada, ladeado pelos Mourisqueiros e acompanhado por milhares de pessoas que assistem.

A festa de Sobrado é vivida intensamente pela população e é um elemento identitário central da comunidade. A festa é de todos, os que desfilam nas danças e os que festejam alegremente com Bugios e Mourisqueiros.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

A Bugiada encanta com os seus trajes coloridos e brilhantes e a algazarra das castanholas e guizos.

Aqui, na Dança de Entrada ao som do hino de São João.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

No final das danças da manhã, Bugios e Mourisqueiros são benzidos pelos seus líderes.

Neste imagem, podemos ver que esta é uma manifestação cultural muito viva e em plena transmissão geracional, com a participação de muitos jovens e crianças.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

A festa de Sobrado caracteriza-se por incluir manifestações festivas e rituais muito diversas. Para além das danças de mouros e cristãos, durante a tarde ocorrem manifestações carnavalescas, como as Entrajadas. Os grupos de Entrajadas desfilam mascarados e, através de cartazes e em interação com quem assiste, fazem "críticas" a acontecimentos do ano, a nível local e nacional, visando, sobretudo, as figuras do poder.

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Nos Serviços da Tarde, são ritualizadas atividades agrícolas, todavia numa ordem inversa e com uma lógica destrutiva.

Nesta imagem, são cobrados os "direitos" (impostos) por um Bugio montado ao contrário num burro.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Mascarados e sujos, os lavradores começam por semear, depois gradam e, por fim, lavram. Esta inversão da ordem do trabalho da terra é comum em muitas ritualizações grotescas de origem medieval. No final de cada trabalho, espera-se que os instrumentos fiquem completamente destruídos.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

A Dança do Cego, ou "Sapateirada", é uma farsa grotesca representada por quatro personagens. Este é um momento em que existe muita interação entre os protagonistas e quem assiste, com comentários provocadores, lançamento de sapatos velhos e abraços que espalham lama por todos.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Ao final da tarde, irrompe o conflito entre Bugios e Mourisqueiros, porque estes últimos se recusam a devolver a imagem milagrosa de São João. Cada um dos grupos instala-se no seu castelo ou "palanque" e trocam-se tiros sucessivamente. Apesar da intervenção de um Embaixador e de Advogados, não é possível negociar a paz. Toda a representação decorre sem palavras, sendo todavia acompanhada por música da Banda Filarmónica de S. Martinho Campo, que expressa as emoções associadas a cada momento.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Quando acaba a pólvora dos Bugios, os Mourisqueiros marcham em ataque aos cristãos.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

O Reimoeiro sobe ao castelo dos adversários e prende implacavelmente o Velho da Bugiada.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Apesar das súplicas do Velho e das crianças que subiram ao castelo para se despedir dele, o Reimoeiro mostra a sua força e impede que o rei dos cristãos se liberte. Tudo parece perdido para a Bugiada. Velho e Reimoeiro descem o castelo, numa manobra de grande perícia, perante a emoção de milhares de pessoas.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Sabendo do medo supersticioso dos mouros, um grupo de Bugios lança-se em corrida com uma Serpe e rompe o círculo de Mourisqueiros que mantinha o Velho aprisionado, o que é interpretado como um milagre de São João.

Bugiada e Mouriscada - Valongo, Portugal (21th Century), de Luís António Santos e Alberto Fernandes (CECS)Museu Virtual da Lusofonia

Ao contrário de outras festas de mouros e cristãos na Península Ibérica e na América do Sul, na festa de Sobrado, a vitória militar dos Mourisqueiros e a libertação milagrosa do Velho da Bugiada não implica a conversão religiosa ou a submissão de um grupo ao outro. No final, ambos os grupos retomam as suas posições e dançam uma última vez, já na despedida do dia festivo. A festa do ano seguinte começa, então, a ser preparada, num ciclo festivo que reforça a identidade de sucessivas gerações da vila de Sobrado.

Créditos: história

Museu Virtual da Lusofonia

Esta exposição teve a curadoria da investigadora Rita Ribeiro, responsável pelo projeto "FESTIVITY - Festa, património cultural e sustentabilidade comunitária. Investigação e comunicação no caso da Bugiada e Mouriscada de Sobrado", referência PDTC/COM-CSS/31975/2017.

Fotografia: Luís António Santos e Alberto Fernandes - Centro de Estudos Comunicação e Sociedade (CECS)

REFERÊNCIAS:
Pinto, M. et al. (2016). Bugiada e Mouriscada de Sobrado: a festa como património. In M. Menezes, J. D. Rodrigues, D. Costa (Eds.), Congresso Ibero-Americano Património, suas Matérias e Imatérias. Lisboa: LNEC/ISCTE-IUL.

Créditos: todas as mídias
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