A mobilização política por meio da comunicação virtual está abalando as formas de poder constituído. A linguagem usada para a mobilização por meio das redes sociais também é nova: frases curtas, endereços de manifestação, temas agregadores muito sintéticos. As palavras de ordem adaptam-se ao formato das redes sociais, tirando proveito das plataformas de comunicação virtual existentes. A rede social mais sintética é o Twitter, que aceita no máximo 140 caracteres por mensagem. Assim, a escala da linguagem no Twitter torna-se o fio condutor desta exposição.
Foram selecionadas 140 obras da coleção do MAM para tematizar a mobilização política. Na Grande Sala do museu, as obras estão organizadas como numa paisagem urbana, indicando as circunstâncias das manifestações e situando os recentes acontecimentos. Por outro lado, na Sala Paulo Figueiredo, gera-se um contraste com as formas anteriores de protesto político no Brasil, durante a Ditadura Militar, iniciada com o Golpe de 64.
140 Caracteres é o resultado do primeiro Laboratório de Curadoria realizado pelo setor Educativo do MAM. A curadoria é compartilhada pelos vinte alunos do curso, que também dividiram a autoria das legendas comentadas das 140 obras expostas. A mostra é o resultado de um ano de debates entre pessoas de formações diferentes, que identificaram, como interesse comum, as novas formas de ação política. Assim, a autoria da exposição também se dilui num coletivo, assumindo a força da mobilização sem líderes.
Procuro-me (2002), de Lenora de BarrosMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Lenora de Barros, Procuro-me, 2002
Uma mulher procurada ou uma pessoa que procura a si mesma? Um lambe-lambe que nos guia para várias direções sempre em busca de identidades perdidas através de imagens que se multiplicam.
Tempo suspenso de um estado provisório (2011), de Marcelo CidadeMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Marcelo Cidade, Tempo suspenso de um estado provisório, 2011
Nesta instalação discutem-se o medo, o poder, a violência, a depredação.
Ela mostra o conflito e seu respectivo trauma.
As marcas de balas num vidro comparam-se às marcas deixadas por esse colapso em que a sociedade contemporânea vive, em busca de sua identidade, de seu território.
Luta (1960 - 1969), de Claudio TozziMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Cláudio Tozzi, Luta, déc. 1960
As primeiras obras de Claudio Tozzi documentavam em painéis cenas das manifestações políticas da década de 60. Palavras de ordem como ‘luta’ transpassam diversos momentos de protestos na história brasileira.
Palhaço com buzina reta - monte de irônicos (2007), de Laura LimaMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Laura Lima,
Palhaço com buzina reta - monte de irônicos, 2007
Poderia ser apenas uma ironia, mas o que prevalece é um certo desconforto em função da ambiguidade contida neste signo associado à alegria, mas também ao que pode ser assustador.
"Beach Triptych nº 25" (1985), de Alair de Oliveira GomesMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Alair Gomes, Beach Triptych nº 25, 1985
O cunho homoerótico desta obra remete às questões de gênero e da política do corpo em uma época marcada pelo surgimento da aids. Para o artista, exercitar o prazer era um ato político.
Luneta (2000), de Márcia Leite XavierMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Márcia Xavier, Luneta, 2000
Na obra, o objeto luneta atua como um aproximador do olhar do espectador para a cidade.
A artista se utiliza da aproximação dessa determinada imagem, onde estamos inseridos, para nos fazer refletir sobre como, apresentada desse modo, a cidade parece ser um lugar distante e inatingível.
Assim, Luneta nos faz deparar com uma realidade constante: que apenas prestamos atenção no que nos cerca quando estamos vendo de longe ou de fora.
Lute (1967 - 1968), de Carlos Augusto da Silva ZilioMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Carlos Zílio, Lute, 1967-98
Uma marmita de alumínio, onde, no lugar do alimento, um rosto amarelo em papel machê que tem como “boca” a mensagem imperativa “LUTE”. O artista, acrescido do violento movimento estudantil combativo e corroído pela sensação de impotência, dá lugar ao corpo militante.
Arquipélago (2005), de Marcius Monteiro GalanMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Marcius Galan, Arquipélago, 2005
Na obra Arquipélago, Galan apresenta itens do mobiliário urbano, que normalmente nos passam despercebidos, e busca nos incomodar com a redução desses espaços nos levando a discutir sobre a ocupação dos espaços em grandes cidades como São Paulo. A obra traz para a exposição uma reflexão de maneira desenfreada e sem controle algum, nos convidando a ter uma experiência íntima e única ao passearmos por sua estrutura.
Zero dólar (1978 - 1984), de Cildo MeirelesMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Cildo Meireles, Zero dollar, 1978-84
A ligação de acontecimentos de uma época. É um questionamento político até os dias de hoje, indagando valores atribuídos a tudo, até mesmo na informação remota.
Grande detalhe (1968), de Antonio Henrique AmaralMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Antonio Henrique Amaral, Grande detalhe, 1968
Grande detalhe faz parte de Brasilianas, a primeira leva de bananas pintadas por Antonio Henrique Amaral. Em meio à ditadura, o autor ficou conhecido por utilizar essas frutas como metáfora do regime e de sua censura. Nesta obra, vê-se o contraste entre a grandeza e a minúcia através da aproximação e do recorte.
Carteira de identidade (auto polegar direito) (1965), de Rubens GerchmanMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Rubens Gerchman, Carteira de identidade (auto polegar direito), 1965
Rubens Gerchman tem o gosto pela crítica urbana popular e seus ícones de “comunicação de massa” que influenciam pessoas de diferentes segmentos da sociedade e que compartilham muitas vezes dos mesmos sentimentos, desejos e sonhos.
Carteira de identidade parte dessa ideia que nos leva a consequências alienantes em função dos processos de comunicação no mundo contemporâneo.
Eu quero você (1966), de Marcello NitscheMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Marcello Nitsche, Eu quero você, 1966
Eu quero você, de Marcelo Nitsche, tem sangue na ponta do dedo. Sangue dos subjugados.
Obra de crítica social sobre os Anos de chumbo no Brasil.
Brasil nativo/Brasil alienígena (1977), de Anna Bella GeigerMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Anna Bella Geiger, Brasil nativo/Brasil alienígena, 1977
A artista questiona, em seus trabalhos, a identidade e a cultura nacionais, o local do artista na sociedade.
Na série Brasil nativo / Brasil alienígena, a artista revela, num tom irônico, sua busca por uma identidade brasileira, justapondo imagens de índios às imagens dela mesma.
O Brasil de hoje se identifica com o Brasil de outrora?
Sem título (1997), de Nazareth PachecoMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Nazareth Pacheco, Sem título / Untitled, 1997
A obra sem título e com material transparente aprisiona e tortura as pessoas indiscriminadamente.
Nazareth é influenciada pelos readymades que retornam em direção à historicidade deste objeto e o que ele representa na cultura brasileira.
Nesta obra, a tortura é velada e aparentemente é um objeto não ofensivo ou que remeta à dor em função da transparência utilizada, mas, na realidade, é contrária a isso e alude ao tronco de tortura dos escravos.
Limpos e desinfetados, cleans and desinfecteds (1987), de Paulo BrusckyMuseu de Arte Moderna de São Paulo - MAM São Paulo
Paulo Bruscky, Limpos e desinfetados, cleans and desinfecteds, 1987
Bruscky trabalha a ambiguidade existente entre o código verbal e o visual/imagético.
A credibilidade social só se torna crível uma vez rotulada.
Portanto, Bruscky legenda o conceito de sua imagem e rotula os dois homens para que se tornem aceitáveis na sociedade.
Curador do MAM—Felipe Chaimovich