A mãe África, de onde vieram centenas de milhares de nossos antepassados, é também berço de intrigantes obras artísticas que mudaram a história da arte mundial para sempre. As máscaras, por exemplo, são a contribuição africana a uma linhagem muito antiga de busca de identidade humana: babilônicos, assírios, egípcios, gregos, romanos, maias, astecas, incas, praticamente todas as grandes civilizações do passado tiveram nas máscaras um ponto marcante de sua cultura. Essa importância vem da representação do rosto humano, do que ele é, do que gostaríamos que ele fosse, do que tememos que ele seja. As máscaras africanas apresentam esses pensamentos em sua plenitude. É bastante documentada a influência da arte africana no modernismo europeu, particularmente no momento inaugural do cubismo (Picasso como seu mais conhecido pintor) e em seus desdobramentos posteriores. Além dele, foi também graças a Braque, Alexander Archipenko, Brancusi, Modigliani, Vlaminck, expressionistas alemães e tantos outros modernistas que a chamada “arte africana” passou a ser conhecida mundialmente a partir do começo do século XX. Picasso referiu-se especificamente às máscaras africanas como tendo-o impressionado muito, em uma exposição de 1907, em Paris.
África - Divisão Geopolítica (2019)Museu Oscar Niemeyer
Origem das obras (2019)Museu Oscar Niemeyer
Máscaras e esculturas
As máscaras e esculturas africanas que chamaram a atenção do mundo, inclusive de artistas do calibre de um Picasso, por sua beleza estética, são muito mais do que isso. As máscaras eram parte, nas culturas africanas, de um elaborado relacionamento entre a comunidade dos vivos, as forças mágicas e espirituais das divindades e os mistérios da natureza. As máscaras que nas grandes civilizações orientais e clássicas intermediavam as ações dos homens com o mundo dos mortos, e nas representações teatrais definiam os atores, na África têm papel bem mais multifacetado. As obras africanas selecionadas para o primeiro módulo mostram diferentes interconexões. Há máscaras elaboradas por associações que cuidam da iniciação de adolescentes em ritos de passagem masculinos e femininos, máscaras de uso agrário e funerário, máscaras propiciatórias de sorte e de fertilidade, assim por diante. Um dos mais importantes aspectos que dão coesão entre elas seria o uso de máscaras para honrar os ancestrais, máscaras que conectariam o mundo dos vivos com o dos mortos e dos homens com os deuses.
Registro fotográfico da exposição "África, Mãe de Todos Nós" (2019)Museu Oscar Niemeyer
Máscara Kpelie | Cultura SenufoMuseu Oscar Niemeyer
Registro fotográfico da exposição "África, Mãe de Todos Nós" (2019)Museu Oscar Niemeyer
Figura de Esposo | Blolo Bian | Cultura BaulêMuseu Oscar Niemeyer
Figura de Esposa | Blolo Bla | Cultura BaulêMuseu Oscar Niemeyer
Registro fotográfico da exposição "África, Mãe de Todos Nós" (2019)Museu Oscar Niemeyer
Figura Ancestral | Tadep | Cultura MambilaMuseu Oscar Niemeyer
Registro fotográfico da exposição "África, Mãe de Todos Nós" (2019)Museu Oscar Niemeyer
Figuras de poder
Definidas como “figuras de poder”, as peças aqui apresentadas são um conjunto de objetos que participavam do equilíbrio entre forças sociais. Seja a força política ou a força espiritual, ambas refletiriam algum nível de aptidão e de virtude. De um lado, a condução da organização social e a direção política de um povo são gerenciadas por pessoas consideradas exclusivas, que assim se demonstravam por meio de seus “objetos de prestígio”. Por outro lado, dons considerados espirituais, como o da fertilidade ou a habilidade de controlar as forças naturais e as do espírito, por meio de técnicas adquiridas de geração em geração, seriam poderes que, intermediados por “objetos comunitários”, estariam ao alcance até mesmo de crianças. Neste módulo, portanto, bustos e estatuetas de elementos de notória importância na cultura africana ao mesmo tempo se contrapõem e se combinam com bonecas de fertilidade utilizadas também como brinquedos infantis.
Registro fotográfico da exposição "África, Mãe de Todos Nós" (2019)Museu Oscar Niemeyer
Registro fotográfico da exposição "África, Mãe de Todos Nós" (2019)Museu Oscar Niemeyer
Figura de Guerreiro | BiniMuseu Oscar Niemeyer
Figuras bedzan | Cultura BamumMuseu Oscar Niemeyer
Figuras bedzan | Cultura BamumMuseu Oscar Niemeyer
Registro fotográfico da exposição "África, Mãe de Todos Nós" (2019)Museu Oscar Niemeyer
TamborMuseu Oscar Niemeyer
A música e a sonoridade
A música e a sonoridade da África são apresentadas aqui por meio de uma seleção de instrumentos musicais que replicam os sons do continente: cascatas,
trovões, chuva, crianças brincando, pássaros, rugidos de animais, entre outros sons, compõem uma parte dessa enorme realidade sonora. Os instrumentos já bem conhecidos – como o chamado “piano de dedos”, kalimba, os diferentes tambores e o xilofone denominado “balafon” – são apresentados em conjunto com as sinetas, claves e harpas. Dispostos aqui, eles tentam proporcionar um pequeno espectro da imensa sonoridade musical africana que tanto nos influenciou. Ritmos, harmonias e melodias não estavam afastados na África da noção
de festa. Pés, mãos e vozes na festa são igualmente “instrumentos” da participação de todos nesse grande espetáculo que é ao mesmo tempo teatral, visual e musical. Não há separação rígida entre os participantes, sejam eles músicos, dançarinos, espectadores ou ouvintes: a sonora festividade é o que os une.
Tambor BagaMuseu Oscar Niemeyer
Sineta Ogboni | Cultura IorubáMuseu Oscar Niemeyer
Toque para explorar
Realização: Museu Oscar Niemeyer
Curadoria: Renato Araújo da Silva
Fotógrafos: Marcello Kawase e Antonio More
Imagens para o Street View: Tour Virtual 360