Descobrimento do Brasil (1887), de Aurélio de FigueiredoMuseu Histórico Nacional
A história negra no Brasil, como em muitos países das Américas, começa com a chegada dos colonizadores portugueses durante o século 16.
Navio Negreiro (1950), de Candido PortinariProjeto Portinari
O número exato de africanos que foram escravizados e aqui trazidos é desconhecida, mas varia entre uma média de quatro a cinco milhões, entre 1539 e 1888.
Diário Popular - a Lei Áurea (1888-05-14), de Américo de Campos (redactor responsável)Museu Afro Brasil Emanoel Araujo
A Lei Eusébio de Queirós, promulgada em 4 de setembro de 1850, proibiu o tráfico de escravos, contudo, este continuou a existir de forma clandestina até a abolição legal da escravidão em 1888. O que por sua vez, impossibilitou de forma definitiva o levantamento preciso dos números de africanos escravizados chegados ao Brasil.
Le Petit Journal - Supplément Illustré Le Petit Journal - Supplément IllustréMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo
Sabe-se também que esses africanos são provenientes de três grandes grupos étnicos. Os chamados povos Bantos, os Iorubas e os Fons, oriundos de diferentes regiões, as quais correspondem hoje aos atuais países africanos Angola, Congo, República Democrática do Congo, Moçambique, Togo, Benin e Nigéria.
Escravo Africano - NagôMuseu Histórico Nacional
No Brasil, esses grupos étnicos receberam distintos nomes, muitas vezes relacionados aos portos de origem das embarcações escravistas, regiões geográficas ou a nomes dados por outros grupos étnicos também africanos, como por exemplo a nomenclatura “nagô” usada para referir-se aos Iorubas.
Escravos no Rio, de Biblioteca NacionalMuseu do Amanhã
Jejes, Moçambiques, Angolas, Congos, Benguelas, Minas, Monjolos e Cabindas são outros exemplos dessa variedade de nomeações.
Escrava Africana – MinaMuseu Histórico Nacional
Escravo Africano – MonjoloMuseu Histórico Nacional
Escravo Africano – Nação MoçambiqueMuseu Histórico Nacional
Cordão de Negros, Quilombo de Bebedouro, 1952.Quilombo. (1952), de Theo BrandãoGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
Ao longo dos séculos em que a escravidão perdurou como sistema econômico, inúmeras formas de resistências foram registradas, sendo os quilombos as organizações mais conhecidas nesse contexto.
Sem título Sem títuloMuseu Afro Brasil Emanoel Araujo
No entanto, outros movimentos também representaram formas de resistências à escravidão, como por exemplo as irmandades negras e os clubes abolicionistas. Além das próprias resistências individuais e coletivas, das práticas culturais, das artes e das religiosidades, sincretizadas ou não.
Rio Carnival - Samba School Parade (1972), de Bill RayLIFE Photo Collection
Já no período pós abolição a marca principal das resistências inicialmente se deu à partir da organização de clubes sociais negros, escolas de samba, jornais e de organizações políticas e sociais.
Escola de Samba (1950 circa), de José MedeirosInstituto Moreira Salles
Carnaval - desfile das Escolas de Samba. Avenida Rio Branco, Centro (1960), de Marcel GautherotInstituto Moreira Salles
Ensaio da Unidos do Cabuçu (1958 circa), de Marcel GautherotInstituto Moreira Salles
LIFE Photo Collection
Já a partir da segunda metade do século XX, a conjuntura política internacional exerce grande influência sobre os movimentos de resistências negros políticos, culturais e artísticos. Assim, especificamente, os contextos das lutas pelos direitos civis dos afro-americanos nos Estados Unidos e os processos de independência e descolonização dos países africanos deixam suas marcas nos movimentos negros brasileiros.
Nesse contexto é que nascem grandes nomes da resistência negra contemporânea no Brasil, em termos culturais e políticos, como os famosos grupos Olodum e o Ilê Aiyê em Salvador na Bahia, em 1974 e 1979. E o MNU – Movimento Negro Unificado, fundado em São Paulo em 1978.
Boutique da la Rue du Val - Longo (1835 - 1835), de Jean Baptiste Debret (del.); Thierry Frères (lith.)Museu Imperial
E é nesse contexto também que se dão as primeiras contestações do famigerado mito da democracia racial brasileira, bem como as primeiras discussões e debates em torno do ponto que por um momento tornou-se central nas discussões raciais no Brasil: celebrar o dia 13 de maio ou o dia 20 de novembro?
Assinatura da Lei Áurea no Paço Imperial (1888-05-13), de Ferreira, Antonio LuizInstituto Moreira Salles
13 de maio de 1888 foi a data da instauração da Lei Aurea, a lei da abolição da escravidão, assinada pela Princesa Isabel.
A desaprovação de parte dos movimentos negros em relação a comemoração do dia 13 de maio fundamenta-se como uma crítica ao processo histórico de não inclusão do negro como cidadão pleno na sociedade brasileira, ou seja, questiona-se o que ocorreu de fato após o fim da escravidão com o negro brasileiro enquanto um grupo social desprovido, naquele momento, de propriedades, de emprego e de uma legislação em algum sentido anti-discriminatória. Fatores que em muito contribuíram para que o negro brasileiro passasse de escravizado à cidadão de segunda classe ou marginalizado.
Toque para explorar
Por sua vez, o dia 20 de novembro representa uma data em contraposição ao 13 de maio, pontuada como o Dia da Consciência Negra – conceito esse inspirado nas ideias do líder negro sul-africano Stevie Biko – a data refere-se a uma homenagem a Zumbi dos Palmares, assassinado por bandeirantes em 20 de novembro de 1695.
Esse texto foi desenvolvido pelo historiador Douglas Araújo para o Google Arts & Culture