1960-1970: Grupo Palmares de Porto Alegre e a afirmação do Dia da Consciência Negra

Em 20 de julho de 1971, quatro rapazes negros fundaram em Porto Alegre o Grupo Palmares, sendo logo acompanhados pela presença atuante de jovens negras e mais outros integrantes. O grupo seria reconhecido como o impulsor da proposta do 20 de Novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra. Mas essa história nem começa com a fundação, nem termina com a dissolução do coletivo em 1978.

Cartaz da primeira celebração do 20 de Novembro promovida pelo Grupo Palmares (1971), de Acervo pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Vinham pelos caminhos”

É da natureza dos grupos representarem o encontro de aspirações compartilhadas. Com o Grupo Palmares, isso não foi diferente. Acompanhar os passos que levaram à sua fundação em 20 de julho de 1971 ajuda-nos a perceber como uma experiência a princípio local se fez na verdade uma empreitada que extrapolou até mesmo as fronteiras nacionais.

Trata-se de um feito que vai além de Oliveira Silveira, Antônio Carlos Côrtes, Ilmo da Silva e Vilmar Nunes, os quatro rapazes negros inconformados com o racismo que assumiram os riscos da perseguição política em tempos da ditadura e afirmaram publicamente suas demandas por uma “outra história do negro brasileiro”. Ao mesmo tempo, não se pode acreditar numa narrativa justa que não reconheça os seus nomes e os de muitas outras pessoas negras do Sul.

José Maria Vianna Rodrigues, Julieta Maria Rodrigues , Maria Aracy dos Santos Rodrigues, Acervo pessoal de Oliveira Silveira, 1966, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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“Casas de negros / palavras em choque”

Nascido na pequena Rosário do Sul, em 1941, Oliveira Silveira mudou-se para Porto Alegre em 1959, a fim de avançar em seus estudos. Conhecer o Movimento da Negritude atuante na França e ingressar no curso de Letras Francês na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) favoreceram o namoro e o posterior casamento com a também estudante de Letras na PUC-RS Julieta Maria Rodrigues, em 1967.

Julieta Maria Rodrigues e Oliveira Silveira em festa de casamento, Acervo pessoal de Oliveira Silveira, 1967, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Residente no bairro Bom Fim, território que fizera parte da Colônia Africana, ela integrava uma família negra bastante envolvida com os clubes sociais negros da cidade, como o Floresta Aurora, o Satélite Prontidão e o Clube Náutico Marcílio Dias. O pai de Julieta, José Maria, era professor de Biologia Educacional na UFGRS e consta que foi ele quem apresentou a Oliveira Silveira o livro As Guerras nos Palmares, de Ernesto Ennes, no qual, entre outras coisas, se registra o 20 de novembro de 1695 como dia da morte de Zumbi.

Ernesto Ennes. A Guerra nos Palmares . São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Porto Alegre: Companhia Editora Nacional, 1938, Capa e p. 104 (1938), de ReproduçãoGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Entre mensagens do Palmar”

No livro publicado em 1938, Oliveira Silveira avistou muito além dos dados que negavam a versão de que Zumbi teria se “suicidado despenhando-se do alto da Serra da Barriga” e atestavam que, após seu assassinato, a cabeça do líder do Quilombo dos Palmares teria sido barbaramente arrancada e exposta em praça pública. Na versão das tropas inimigas, isso era importante para “satisfazer os ofendidos e justamente queixosos, e atemorizar os negros que supersticiosamente julgavam este imortal”. Mesmo assim, Ennes reconhecia que Zumbi “pelejou valorosa e desesperadamente” na companhia de sua gente, certo do valor da liberdade. Aos olhos de Oliveira, era possível ler ali uma força que conectava gerações e fazia muito sentido entre quem lutava contra o racismo no século XX.

Oliveira Silveira com cerca de vinte e cinco anos na sacada da Casa do Estudante da Associação da Juventude Católica (JUC) , em Porto Alegre, Acervo pessoal de Oliveira Silveira, 1960, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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“Treze de maio traição”

Entre fins dos anos 1960 e início da década de 1970, os amigos Antônio Carlos Côrtes, estudante de Direito; Ilmo Silva, estudante de Economia; Vilmar Nunes, servidor público e estudante de Administração; e Oliveira Silveira, professor formado pela UFRGS desde 1965, tiveram animadas conversas em especial na esquina da Rua dos Andradas com a Marechal Floriano, Centro de Porto Alegre.

Compartilhavam a revolta diante da maneira como se reduzia a história de africanos e seus descendentes no Brasil à imagem da absoluta submissão ao escravismo. Nas escolas, os festejos do Treze de Maio – ao negarem as lutas negras por liberdade em benefício da exaltação da princesa Isabel, como “a redentora dos escravos” – eram fonte de constrangimentos para crianças, jovens e adultos.

Capa do premiado livro Banzo , onde a versão original do poema “Treze de Maio” foi publicada em 1970, Acervo pessoal de Oliveira Silveira, 1970, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Fruto dessa indignação, Oliveira Silveira escreveu o poema “Treze de Maio”, em 15 de maio de 1969, que é parte do livro Banzo, pelo qual foi premiado no mesmo ano com a menção honrosa da União Brasileira de Escritores.

Reprodução do poema em Nêgo – Jornal Nacional do MNU , n. 14, abr. 1988, p. 12 , (1988), de Acervo NegritosGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: “Treze de Maio” por Naiara Rodrigues Silveira Lacerda, filha de Oliveira Silveira
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Registro sindical de Antônio Carlos Côrtes como funcionário do Banrisul (1971), de Acervo Pessoal de Antônio Carlos CôrtesGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio Antônio Carlos Côrtes – Integrante fundador do Grupo Palmares e advogado criminalista.
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“Lapidemos também nossa garganta”

Os bate-papos na esquina da Rua dos Andradas aguçavam ainda mais o desejo de conhecer a história da gente negra entre aqueles amigos. Foi assim que o futuro Dr. Côrtes encontrou por conta própria o livro O Quilombo dos Palmares, do etnólogo afro-baiano Edison Carneiro, na Biblioteca Pública da cidade. O compartilhamento dessa leitura somados aos conhecimentos do mais experiente Oliveira Silveira foram potencializados em reuniões de estudo a partir de maio de 1971. A primeira aconteceu na Rua Tomaz Flores n. 303, residência dos professores Maria Aracy e José Maria (falecido no ano anterior), onde também moravam Oliveira, Julieta e a pequena Naiara. A segunda reunião já contou com a participação de Anita Leocádia Prestes Abad e Nara Helena Medeiros Soares, tendo ocorrido na casa dos pais de Antônio Côrtes, na Rua dos Andradas n. 849. Egydio Ribeiro Côrtes, zelador da Loteria do estado, e Isolina dos Santos Côrtes, dona de casa, também compreendiam a importância daqueles diálogos e legitimaram o interesse da juventude.

Edison Carneiro. O Quilombo d os Palmares . 2.ed. São Paulo: Editora Brasiliense, 1958 [1947], Capa e p. 41 (1958), de ReproduçãoGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Ancestral intérprete em meu sonho”

As informações gerais obtidas na obra de Edison Carneiro não se diferenciavam muito das disponíveis no livro de Ernesto Ennes. Havia, porém, pelo menos duas novidades: a maneira como o perfil subjetivo de Zumbi era apresentado e o fato de esses dados serem acessados mediante a leitura coletiva. Para aqueles rapazes que buscavam uma outra história do negro no Brasil, importava saber, como destacado por Carneiro ao rebater o mito do suicídio, que Zumbi dos Palmares tinha sido um “chefe consciente dos seus deveres”, um dos últimos a deixar o território de Macaco diante da investida das colunas de paulistas em 1694. O líder quilombola de verdade não era aquele “que se atirou do rochedo, num grande gesto teatral, mas o que continuou vivo, reagrupando os seus homens, organizando novamente as forças de resistência do quilombo – a mais prolongada tentativa de autogoverno dos povos negros no Brasil”. Sua morte em 20 de novembro de 1695 tinha, assim, mais potencial mobilizador que o próprio nascimento, cuja data seguiu desconhecida. O Grupo Palmares nascia amparado num símbolo forte o bastante para confrontar a versão desumanizadora da Abolição.

apa do livro Poema sobre Palmares , de Oliveira Silveira (1987), de Acervo pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: Grupo Palmarinos/Sopapo Poético – Poema sobre Palmares – Parte 1
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“Queimem a história toda e verão que és eterno”

Os reencontros com as histórias do Quilombo dos Palmares motivaram a escrita de muitos versos. Oliveira Silveira, afora textos avulsos, dedicou longos anos à escrita do Poema sobre Palmares. A empreitada começou em 1972 e foi até 1987, quando ele publicou o resultado numa edição independente, desafiando as interdições do mercado editorial à literatura negra.

Em 2019, o coletivo Sopapo Poético, por meio do Grupo Palmarinos, produziu uma leitura dramática para acompanhar a segunda edição do livro, impressa pela Editora Alternativa. As sete faixas das gravações foram gentilmente cedidas por Naiara Rodrigues Silveira Lacerda para serem ouvidas pelo público desta exposição enquanto acompanha o passeio por outros documentos que contam um pouco da história do Grupo Palmares.

As vozes são de Marieta Silveira, Jorge Fróes, Lilian Rocha, Kyzzy Barcelos, Vladimir Rodrigues, Fátima Farias e Sidnei Borges.

Notas de Oliveira Silveira sobre o 13 de Maio e o 20 de Novembro (1971), de Acervo pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Eu quero é o passado bom”

Confrontar a narrativa oficial sobre o 13 de maio mediante a exaltação do 20 de Novembro, como Dia da Consciência Negra, representava um esforço para reposicionar as experiências de pessoas negras no fluxo da história do Brasil. Nesta anotação de Oliveira Silveira sobre o Treze versus o Vinte, feita no início dos anos 1970, fica explícita a necessidade de se olhar para o passado não como o tempo da vergonha. Os esforços deveriam ser no “sentido de conscientização, afirmação e orgulho”. Recuperar Palmares ajudava a perceber a importância de sujeitos históricos de outros tempos. Não por acaso, antes mesmo da primeira celebração do Vinte, em 1971, o Grupo Palmares promoveu reuniões de homenagem aos abolicionistas negros Luiz Gama, por ocasião do 89º aniversário da morte desse, em 24 de agosto; e José do Patrocínio, no marco dos 118 anos do seu nascimento, em outubro.

Primeiro ato comemorativo do 20 de novembro, Grupo Palmares, Porto Alegre, 20 de novembro de 1971 (1971-11-20), de Irene Santos, Acervo pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Contando uma história bem longa”

Noite de sábado, 20 de Novembro de 1971. Clube Náutico Marcílio Dias. Bairro Menino Deus. Cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. O primeiro ato evocativo do Dia da Consciência Negra contou com umas vinte pessoas e uma forte certeza: “Nenhum negro que conheça a história de Palmares terá complexo de inferioridade”. Dimensionar o alcance da ação era para depois. O que interessava ali era registrar a crítica a “quase um século de liberdade num país sem liberdade, num país-colônia”. Oliveira Silveira, no dia seguinte, defenderia ainda a data cívica de apelo combativo na “A Epopeia dos Palmares”, artigo publicado no Correio do Povo, em que dizia: “Assim, em 20 de novembro, salvo melhor juízo, é que os negros do Brasil – quando não os brasileiros em geral – deveríamos fazer as melhores comemorações, reverenciando a memória de nossos heroicos antepassados. Não a de Zumbi exclusivamente, não a homenagem personalista apenas, mas a evocação reconhecida de todos os quilombolas palmarinos, de todos os quilombos que se seguiram – na Bahia, em Minas, no Maranhão –, de Luiz Gama, Patrocínio, os Rebouças e enfim de todos os nossos grandes vultos e momentos”.

Poema sobre Palmares – Parte 2Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: Grupo Palmarinos/Sopapo Poético – Poema sobre Palmares – Parte 2
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Roteiro do Ato Comemorativo em Homenagem a Palmares aprovado na Polícia Federal (1971), de Acervo pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio Antônio Carlos Côrtes – Integrante fundador do Grupo Palmares e advogado criminalista.
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“Racismo, eu sei de pele”

Demoraria um pouco até que o Grupo Palmares e sua “insistência em despertar uma consciência negra entre os brasileiros de origem africana” fossem captados pelo radar de preocupações da Agência de Porto Alegre do Serviço Nacional de Informações (APA/SNI).

A realização das atividades, desde o início, dependia da autorização da Turma de Censura e Diversões Públicas da Polícia Federal. Mas, ao que parece, os agentes não viam razão para levar a sério aqueles homens e mulheres negras.

Antônio Carlos Côrtes relembra de uma vez em que ele e Oliveira Silveira foram chamados a dar explicações sobre o que faziam. Mas registros do monitoramento revelam que apenas a interlocução com o escritor branco Décio Freitas, que se aproximou somente depois da fundação do grupo, fazia sentido na cabeça dos agentes de vigilância...

Anotação de Oliveira Silveira sobre o local de moradia de integrantes do Grupo Palmares (1971), de Acervo pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“É a história dos que só-noite”

Oliveira Silveira fez uma série de anotações acerca dos passos dados pelo coletivo. Aqui o rascunho de um mapa acerca dos bairros de origens das pessoas envolvidas na coordenação do Grupo Palmares: Navegantes, Vila do IAPI, Glória, Menino Deus, Cidade Baixa, Centro.

Poema sobre Palmares- Parte 3Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: Grupo Palmarinos/Sopapo Poético – Poema sobre Palmares – Parte 3
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Helena Vitória Machado, Anita Abad, Antônia Mari z a Carolino, Marli Carolino e Oliveira da Silveira em reunião do Grupo Palmares no bar do Centro Acadêmico d a Faculdade de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS (1972), de Acervo pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Que o que temos nós lutamos”

A formação original do Grupo Palmares foi indiscutivelmente masculina. Porém, logo que as atividades se abriram a outras pessoas interessadas, a presença de mulheres negras se fez efetiva. Em 1972, era preciso esforço para ignorar a participação de Helena Vitória Machado, Anita Abad, Antônia Carolino e Marli Carolino, que aparecem nesta fotografia feita durante reunião no bar do Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia da UFRGS.

Além dessas, o nome de Nara Helena Medeiros Soares já tinha aparecido no roteiro do primeiro ato em homenagem a Palmares, em 1971. Outras mulheres tiveram participação nos anos seguintes, como Marisa Souza da Silva, Vera Daisy Barcelos, Maria da Conceição Lopes Fontoura, Margarida Maria Martiniano Ramos, Irene Santos, etc. Nem todas permaneceram por todo o período de existência do grupo.

Helena Vitória Machado, arquiteta, certamente foi a que mais se destacou, tendo sido coordenadora e proponente do Manifesto do Grupo Palmares lançado em 1972.

CULTNE - Manifesto do Grupo Palmares em 1972 - RSGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Fotos d a família de Maria Conceição Lopes Fontoura em sua formatura em Letras pela UFRGS (1975), de Acervo P essoal de Maria Conceição Lopes FontouraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio Maria Conceição Lopes Fontoura – Fundadora de Maria Mulher – Organização de Mulheres Negras e doutora em Educação (UFRGS).
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“Roucas quentes fortes vozes”

Aos 23 anos, quando ingressou no Grupo Palmares, Maria Conceição Lopes Fontoura era uma jovem estudante do curso de Letras na UFRGS. O convite foi feito por Anita Abad. A princípio, na presença de pessoas mais velhas e desenvoltas nos debates sobre a chamada “História do Negro”, ela mais escutava que falava. Era difícil não se intimidar diante da potência de figuras como Helena Vitória Machado. Porém, seu acanhamento logo passou por uma prova de fogo.

Em 1973, a celebração do 20 de Novembro previa a apresentação da peça Do Carnaval ao Quilombo, de autoria coletiva do Grupo Palmares. O espetáculo contrastava com as lições aprendidas na escola. Maria Conceição foi, então, encarregada de obter a aprovação do texto perante a Polícia Federal. Seus pais nunca souberam disso. Assim como ela nunca conseguiu romper com o Movimento Negro dali em diante!

Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Do Carnaval ao Quilombo – Trechos

Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Trechos do texto da peça “Do Carnaval ao Quilombo”, de autoria coletiva do Grupo Palmares, Acervo Pessoal de de Maria Conceição Lopes Fontoura, 1973, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Poema sobre Palmares – Parte 4Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: Grupo Palmarinos/Sopapo Poético – Poema sobre Palmares – Parte 4
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Propostas de Atividades do Grupo Palmares (1974-09/1975-01), de Acervo Pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“A palavra passeia, toma sol”

O compromisso com a “consciência negra” fazia com que o calendário de ações do Grupo Palmares ocupasse outros meses além de novembro. Na verdade, a movimentação se dava durante o ano inteiro, havendo um esforço para abordar outros temas além dos quilombos.

O planejamento de agosto de 1974 propunha um calendário de atividades que chegava a janeiro do ano seguinte, o que incluía reunião de estudos, performances, vivências, palestras, produção de textos para jornais, rádio e TV.

Em novembro, emplacaram a publicação de trechos de outro manifesto no Jornal do Brasil, no qual reforçavam a importância do acesso aos “justos e eloquentes motivos de orgulho e dignidade” presentes na “história do negro”. A matéria foi lida pela historiadora e ativista Beatriz Nascimento, no Rio de Janeiro, que estabeleceu contato com o Grupo Palmares pouco depois.

Em 1975, o Grupo Palmares somou-se ao Grupo Afro-Sul, de música e dança, e ocuparam o Clube de Cultura, entidade da comunidade judaica, com palestras e apresentações artísticas.

Capa do livreto “Mini História do Negro Brasileiro (1976), de Acervo Pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Tempo, séculos a fio”

Se, por um lado, a flutuação de participantes dificultava a atuação entre amplos segmentos da população negra; por outro, as estratégias adotadas pelo Grupo Palmares faziam com o que o coletivo e sua proposta se tornassem cada vez mais conhecidos.

Em novembro de 1976, o lançamento do livreto Mini História do Negro Brasileiro aconteceu na sociedade negra “Nós os Democratas”. O grupo era, então, composto por: Antônia Carolino, Gilberto Ramos, Helena Machado, Margarida Martiniano, Marisa Silva, Oliveira Silveira, Otalício Santos, Rui Moraes e Vera Daisy Barcelos. Oliveira, em especial, assumira a tarefa de fazer a pesquisa e a redação do material.

Essa Mini História seria aproveitada em atividades posteriores, bem como distribuída entre ativistas de outros estados que contactavam o Grupo Palmares. Naquele ano, por exemplo, Orlando Fernandes e Carlos Alberto Medeiros foram a Porto Alegre como representantes do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras (IPCN), entidade do Rio de Janeiro.

Poema sobre Palmares – Parte 5Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: Grupo Palmarinos/Sopapo Poético – Poema sobre Palmares – Parte 5
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Oswaldo de Camargo (1970), de Foto de Renato Lopes , Acervo Pessoal de Oswaldo de CamargoGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio Oswaldo de Camargo – escritor
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“A nossa amizade era livre”

O Grupo Palmares chegou, sem interrupções, a 1977 dedicando-se sistematicamente à divulgação de uma história crítica do negro no Brasil e fortalecendo a articulação com outros estados.

Naquele ano, a Associação Satélite-Prontidão, sociedade negra fundada em 1902, recebeu a exposição da minibiblioteca do Grupo Palmares, bem como a adaptação do conto "Esperando o embaixador", do escritor negro paulista Oswaldo de Camargo. A leitura dramática foi feita por integrantes do grupo Nosso Teatro, posteriormente renomeado de Grupo Cultural Razão Negra.

Convidado especial, Oswaldo conta que nunca havia estado em Porto Alegre e que ficou muito bem impressionado com a acolhida que recebeu.

Carta de Oliveira Silveira para Beatriz Nascimento (1978), de Acervo Pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Negritude reencontrada”

Beatriz Nascimento foi outra intelectual ativista negra que se conectou com o Grupo Palmares. Como mencionado, ela tomou conhecimento da movimentação afro-gaúcha por meio da matéria publicada no Jornal do Brasil. Naquele momento, Beatriz estava às voltas com a criação do Grupo de Trabalho André Rebouças (GTAR), fundado em 1975 na Universidade Federal Fluminense (UFF).

Esta carta de Oliveira Silveira a Beatriz Nascimento, de 2 de janeiro de 1978, escrita quando a criação do Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial (MNUCDR) nem tinha sido apresentada, dá notícias de uma dinâmica militância negra, em que as histórias de Palmares e outros quilombos eram centrais.

O material formativo a que se refere Oliveira, certamente, eram os cadernos elaborados a partir das edições da Semana de Estudos sobre a Contribuição do Negro na Formação Social Brasileira, na UFF.

Poema sobre Palmares – Parte 6Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: Grupo Palmarinos/Sopapo Poético – Poema sobre Palmares – Parte 6
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Capas da Revista “Tição” (1978/1980), de Acervo Pessoal de Ana Flávia Magalhães PintoGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio Ceres Santos – Jornalista e professora da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).
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“Teu grupo está na roda viva”

O Grupo Palmares, como tal, teve seu encerramento em 3 de agosto de 1978. Mas suas articulações já vinham se desdobrando em outros espaços, o que representou uma certa continuidade.
De fato, as diferentes compreensões acerca das estratégias prioritárias de luta – e certas incertezas – levaram integrantes do grupo a caminhos diversos, ainda que conectados.
O MNU, fundado em julho de 1978, inegavelmente foi um espaço que aglutinou muitas dessas pessoas. Mas outras possibilidades também foram marcantes.

Uma delas foi o Grupo Tição, que existiu entre 1977 e 1980, sendo responsável pela edição de duas revistas e um tabloide, referências da imprensa negra da segunda metade do século XX.

Ceres Santos, que transitou em todos esses espaços, fala sobre as ressonâncias do Grupo Palmares nos debates de consolidação do MNU no Rio Grande do Sul e no restante do Brasil.

Vera Lopes e Sirmar Antunes em recital poético (1980), de Acervo Pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Vamos juntos”, “Negra na Garupa” e “Vai, vai para o mar” por Vera Lopes e Sirmar Antunes – atores
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“Me dá a mão / e vamos juntos”

As atividades teatrais desenvolvidas nos clubes sociais negros de Porto Alegre certamente foram importantes para a mobilização das pessoas envolvidas na criação do Grupo Palmares.
Tanto que, ao longo dos anos 1970, peças, shows, saraus, etc. sempre fizeram parte de suas programações.

Embora se insistisse na diferenciação, a cultura era política e a política fazia a cultura. A promoção da “consciência negra” se fez nessa confluência.

Os vínculos de integrantes com o Grupo Cultural Razão Negra e várias outras atrizes e atores negros demonstram a importância da arte na formação da consciência negra desde o Sul.

Oliveira Silveira no IV Congresso Nacional do MNU (1983), de Acervo Pessoal de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Deixem meu povo ir”

Quando o manifesto de fundação do Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial foi lido nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo, a ideia do Vinte de Novembro como Dia Nacional da Consciência Negra já fazia parte do repertório de aspirações de militantes em todo o Brasil.

Afora essa sintonia, a proposta do MNU ia ao encontro de muitas experiências de ativismo existentes. Oliveira Silveira e Helena Vitória Machado foram dos primeiros a aderir a proposta em Porto Alegre em 1978. Pouco depois, criaram o GT Palmares, conhecido como o “Grupão Gaúcho”.

Nesta fotografia, Oliveira Silveira fala à plenária do IV Congresso Nacional do MNU, realizado em Taboão da Serra (SP), de 3 a 5 de junho de 1983.

Poema sobre Palmares – Parte 7Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Áudio: Grupo Palmarinos/Sopapo Poético – Poema sobre Palmares – Parte 7
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Selos celebrativos dos 20, 25 e 35 anos do Vinte de Novembr, de Acervo Particular de Oliveira SilveiraGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

“Encontrei minhas origens”

A Associação Negra de Cultura (ANdC) e o Grupo Semba, outros desdobramentos do Grupo Palmares, deram início à produção de selos comemorativos ao Vinte de Novembro como Dia da Consciência Negra.

“Novembro o ano todo, consciência negra sempre” era a mensagem compartilhada em 1991, quando dos vinte anos do Vinte. Cinco anos depois, foi a vez de questionar: “Grupo Palmares, uma virada histórica. E agora?”.

Em 2006, em diálogo com representantes do Movimento Negro e da ONU, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) lançou um novo selo na Revista “Dia da Consciência Negra – 35 anos”. A arte foi elaborada por Raimundo Laranjeira, que incorporou uma série de referências nacionais e internacionais da militância no cabelo de uma mulher negra.

Selo comemorativo dos 50 anos do Vinte de Novembro, Acervo Particular de Sátira Machado, 2020-02, Da coleção de: Geledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne
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Em 2020, por sugestão da atriz Vera Lopes, a jornalista Sátira Machado mobilizou a artista plástica branca Silvia do Canto para produzir o selo dos 50 anos do 20 de Novembro (1971-2021). As duas haviam trabalhado juntas na elaboração do Poster Book do Projeto RS Negro. Nesta homenagem ao Grupo Palmares, a imagem de Oliveira Silveira associada ao mapa do Rio Grande do Sul mobiliza uma série de significados. Integrante de idade mais avançada quando da fundação do coletivo, ele completaria 80 anos em 2021. Oliveira, além de estar entre os proponentes originais, foi o único a manter vínculo com o grupo até o encerramento das atividades em 1978. Não por acaso, é chamado por muitas pessoas de “o poeta da consciência negra”. A imagem está liberada para uso em todas as atividades desenvolvidas ao longo de 2021 em comemoração ao cinquentenário do Vinte de Novembro e às lutas contra o racismo no Brasil.

CULTNE - Oliveira Silveira - Homenagem 50 anos do 20 de NovembroGeledés Instituto da Mulher Negra | Rede de Historiadores Negros | Acervo Cultne

Créditos: história

Este painel é parte do projeto de exposições virtuais Nossas Histórias: vidas, lutas e saberes da gente negra, uma parceria entre a Rede de Historiadoras Negras e Historiadores Negros com o Geledés – Instituto da Mulher Negra e o Acervo Cultne.

*Os títulos das seções e páginas deste painel correspondem a trechos de poemas de Oliveira Silveira.

Curadoria coletiva: Aline Najara da Silva Gonçalves, Ana Flávia Magalhães Pinto, Bethania Pereira, Bruno Pinheiro, Carlos Silva Júnior, Fernanda Oliveira da Silva, Francisco Phelipe Cunha Paz, Jonatas Roque Ribeiro, Leonardo Angelo da Silva e Lucimar Felisberto dos Santos
Pesquisa e Entrevistas: Ana Flávia Magalhães Pinto, Elenir Gularte Marques e Sátira Machado
Texto: Ana Flávia Magalhães Pinto
Edição de Áudio: Leonardo Ângelo da Silva
Edição de Vídeos: Asfilofio Filho e Bruno Pinheiro
Produção: Ana Flávia Magalhães Pinto, Fernanda Oliveira da Silva, Leonardo Angelo da Silva e Sátira Machado
Revisão técnica: Ana Flávia Magalhães Pinto, Bruno Pinheiro, Leonardo Angelo da Silva e Sátira Machado
Administração: Natalia de Sena Carneiro

Agradecimentos especiais:
Antônio Carlos Côrtes, Arquivo da TVE – RS, Ceres Santos, Deivison Moacir Cezar de Campos, Elenir Gularte Marques, Greice Adriana Neves Macedo, Grupo Palmarinos (Marieta Silveira, Jorge Fróes, Lilian Rocha, Kyzzy Barcelos, Vladimir Rodrigues, Fátima Farias e Sidnei Borges), Helen da Silva Silveira, Maria da Conceição Lopes Fontoura, Martha Rosa Figueira Queiroz (Negritos), Naiara Rodrigues Silveira Lacerda, Oswaldo de Camargo, Sátira Machado, Sherol Santos, Silvia do Canto, Sirmar Antunes, Sopapo Poético e Vera Lopes.

Créditos: todas as mídias
Em alguns casos, é possível que a história em destaque tenha sido criada por terceiros independentes. Portanto, ela pode não representar as visões das instituições, listadas abaixo, que forneceram o conteúdo.
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