Palácio visto do jardim (1858/1868)Museu da República
Os três tempos do Palácio: rupturas e continuidades
Casa senhorial, sede da Presidência e Museu, o Palácio é um importante testemunho dos valores e formas de viver da elite imperial e do projeto de República instituído nessas terras, no final do século XIX.
A construção do "Palacete do Largo do Valdetaro" foi o sonho realizado de um imigrante português, que nasceu pobre e enriqueceu graças, entre outros empreendimentos, ao tráfico de escravos.
Antes de se tornar sede da presidência, passou por um ano de reformas. Das intervenções, destaca-se a inclusão de datas que marcam mudanças institucionais que, entretanto, não trouxeram melhorias significativas para a maior parte da população. Segundo o jornalista Aristides Lobo, testemunha da Proclamação da República, “O povo assistiu aquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada”.
Quarto de Getúlio Vargas.Museu da República
O quarto onde Getúlio Vargas morreu, testemunho dos tempos republicanos representados no interior do palácio, tornou-se, ao longo do tempo, um dos espaços institucionais de memória política mais emblemáticos do país.
A cristaleira é parte da mobília original. Em seu interior, temos cristais usados nas recepções oficiais da presidência. Sobre as prateleiras laterais e aparador, uma floreira da Coleção Ernesto Geisel e castiçais da Coleção Eurico Gaspar Dutra.
"Barão e Baronesa de Nova Friburgo". "Barão e Baronesa de Nova Friburgo". (1867), de Emil BauchMuseu da República
Moradia, cidade e poder
Mas, afinal, de onde veio tanta riqueza? Pintado sob encomenda para decorar a nova residência, este quadro representanto o Barão e a Baronesa de Nova Friburgo reúne parte do patrimônio acumulado pela família, sem, no entanto, esclarecer toda a sua origem.
Apesar de estar representada como parte do seu patrimônio, a Estrada de Ferro Cantagalo foi uma concessão do Império e teve sua construção garantida também através de recursos disponibilizados pelo Estado.
Escadaria Principal.Museu da República
A presença de elementos neoclássicos nos revela aspectos da vida e da mentalidade de segmentos da elite brasileira que, indiferentes à efervescência das ruas, voltavam seus olhos para a Europa, na esperança de fazer da cidade uma “Paris tropical”.
A simetria é uma das características da arquitetura Neoclássica. Na busca pela harmonia, valia incluir até portas falsas, como a que aparece na imagem, cuja única função era garantir a ordem do espaço.
Capela. Armário-cofreMuseu da República
A semelhança deste armário com um móvel sacro reflete não apenas a forte presença dos símbolos cristãos no imaginário das elites, como as relações existentes entre religião, patrimônio e poder no Império e na República.
O esforço em impressionar resultou numa mistura de tendências que nem sempre dialogavam entre si. No salão Pompeano, a opção por um estilo mais arqueológico e erudito, de inspiração Iluminista e Liberal, sugeriam o comprometimento com ideias de renovação da sociedade. Por sua vez, o salão Mourisco representa, em seus detalhes, cópia imperfeita elaborada por uma Europa que começava a se interessar, na segunda metade do século XIX, pelo “exotismo” africano e asiático.
"Barão e Baronesa de Nova Friburgo". "Barão e Baronesa de Nova Friburgo". (1867), de Emil BauchMuseu da República
Um lugar de memórias e esquecimentos
As dimensões monumentais do Palácio chamam atenção para o grande contraste entre as condições de moradia dos membros da elite e o restante da população, que, em sua maioria, se aglomerava em cortiços espalhados numa cidade permanentemente febril.
Num espaço onde as representações do feminino são mitológicas ou alegóricas, a baronesa aparece como uma personagem real e, por isso, é uma exceção. Que mulheres do seu tempo conseguiriam tal destaque?
Salão Veneziano (Salão Amarelo).Museu da República
Ao olharmos este lustre, nos encantamos com a beleza dos seus detalhes, mas nem sempre paramos para lembrar sobre os (as) responsáveis pela sua instalação, limpeza diária e manutenção.
Salão Mourisco.Museu da República
O cinzeiro encontra-se numa das mesas do salão Mourisco, um espaço reservado para o fumo e o carteado, hábitos que a elite restringia ao universo masculino. Sendo assim, que mulheres não podiam fumar?
Leque da Baronesa de Nova FriburgoMuseu da República
Os leques eram usados no flerte e comunicação não verbal com possíveis pretendentes. Proibidas de se expressarem livremente, as mulheres aprendiam desde cedo que um bom casamento garantia um bom futuro - a depender da cor de sua pele.
Salão de Banquetes. Mesa de jantarMuseu da República
Oferecer banquetes, marcados pela fatura e por cardápios refinados era uma forma de afirmar uma condição social superior. Entretanto, de quem era o trabalho que sustentava esses sonhos de grandeza?
Para Gilberto Freire, a mistura harmônica de diferentes saberes e ingredientes no preparo da comida seria uma metáfora da nossa democracia racial, não importando quem a preparava, quem a servia e a quem era dado o direito de sentar à mesa.
Capela. Detalhes decorativos da CapelaMuseu da República
Mesmo conformados a partir de diversas religiosidades, ainda vivemos sob representações do Catolicismo forjadas quando religião oficial do Brasil Império. Até quando insistiremos em não nos enxergar?
Museu da República /IBRAM/Ministério da Cultura
Direção - Mario Chagas
Coordenação Técnica - Lívia M. N. Gonçalves
Setor de Comunicação - Henrique Milen
Exposição
Curadoria pedagógica: Ana Paula Zaquieu
Textos: Ana Paula Vianna Zaquieu (coord.) e Letícia Bomfim (estagiária)
Pesquisa: Ana Paula Vianna Zaquieu (coord.), Ana Clara Nava (bolsista CPII), Carolina Bayma (bolsista CPII), Isadora Araújo (estagiária), Letícia Bomfim (estagiária), Matheus Lopes (bolsista CPII), Melinda Cariello (bolsista CPII) e Pâmela Mendes (estagiária).
Fotografia: Melinda Cariello
Montagem: Paulo Celso Corrêa
Bibliografia