A proposta conceitual tem como
finalidade primeira apresentar algumas transformações específicas da cultura
visual brasileira recorrendo à noção de espaço da obra, que tanto inserem essa
visualidade quanto a distanciam de um contexto internacional onde o conceito de
espaço é fundamental para entender a passagem do mundo artístico moderno para o
contemporâneo. Assim, falar sobre a espacialidade na obra de arte é falar sobre
mudanças, ao longo do século XX, essenciais para se entender as implicações conceituais
que ainda geram impactos no fazer de hoje. A exposição apresenta obras selecionadas a partir da ideia de se refletir a noção de espacialidade, tema caro tanto à arte moderna como à contemporânea.

Marília de Dirceu (1957) by Alberto Da Veiga GuignardMuseu Nacional de Belas Artes

Nesse primeiro núcleo estão reunidas obras que anunciam novos tratamentos da superfície ou das suas características óticas e matéricas. No entanto, ainda é possível se perceber com muita clareza uma espacialidade naturalista como referência identificável da realidade ao seu entorno. 

O circo (1944) by DjaniraMuseu Nacional de Belas Artes

Não há nada no centro geométrico da obra. É um ponto cego. O centro real é deslocado um pouco para a esquerda, um pouco para baixo. Ali está o meio do picadeiro e das brincadeiras, o miolo de um rodamoinho de gente que se espraia em diversas e divertidas ações, numa aparente espiral que compõe o espaço da pintura. Além disso, vemos riscos azuis que jogam a ação para cima e que podem ser parte da montagem das fantasias celestiais do trapézio, da suspensão de uma banda singular ou da sustentação da lona que permite, no imaginário, o sonho circense. Dentro de um modo de representação objetivo, Djanira brinca com o olho do espectador, joga ele para o alto como num enorme pula-pula e cria uma harmônica e atípica dissonância na estrutura da pintura.

Lapa, Rio de Janeiro, RJ (1947) by Iberê CamargoMuseu Nacional de Belas Artes

Apreendido de um ângulo fechado e emoldurado por muros gastos pelo tempo, um trecho do bairro da Lapa, no Rio de Janeiro, pode ser visto nesta obra de Iberê Camargo. Sobre as ruas de paralelepípedos, os muros e a esquina, a cena acontece mais intensamente. Uma pessoa caminha sob a copa de uma árvore e o horizonte deixa ver o que ela não vê: um emaranhado de topos de prédios, que tem sobre si uma faixa estreita de céu. Nesta pintura, o artista trabalha o espaço da obra ainda como um reflexo da realidade.

Trecho da Praia de São Roque em Paquetá, RJ (1898) by Giovanni Battista CastagnetoMuseu Nacional de Belas Artes

É interessante notar, por exemplo, a pincelada solta e sensorial da pintura de Giovanni Baptista Castagneto, datada do final do século XIX, que guarda uma sensação espacial realista,

Três meninas no jardim (1935) by Eliseu ViscontiMuseu Nacional de Belas Artes

Costureira (1951) by DjaniraMuseu Nacional de Belas Artes

ou a ausência de proporção naturalista na “Costureira” de Djanira, de meados do século XX, que ainda se projeta para dentro da moldura. São obras que nos apontam vontades de transformação que serão encaminhadas de uma forma radical e enfática mais adiante.

Paisagem de Sabará, MG, Alberto da Veiga Guignard, 1952, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Seascape - Itanhaém, José Pancetti, 1945, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Brodósqui, Candido Portinari, 1948, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Meditação (1929) by Nicolina Vaz de AssisMuseu Nacional de Belas Artes

Composição, da série "TV-rádio" (1975) by Darel Valença LinsMuseu Nacional de Belas Artes

The city lit (1953) by ANTÔNIO BANDEIRAMuseu Nacional de Belas Artes

Nesse módulo é possível ver
algumas experiências artísticas que demonstram claramente uma posição diante da
espacialidade diferente da anterior. As obras assumem a postura investigativa
diante do problema histórico que enfrentam do espaço da obra, tentando soluções
diferentes, e mesmo que de algum modo ainda estejam presas a certos paradigmas
principalmente relacionados à figuração, nos permitem observar o entre-lugar onde
os artistas abrem uma passagem entre a figuração e a abstração.

Na “Cidade iluminada” de Antonio Bandeira, não identificamos a urbe de imediato, mas o título dado pelo artista desperta em nós um rico imaginário, que quase torna possível ouvir os seus sons, por meio de cores e enérgica gestualidade.

Carretéis com frutos (1959) by Iberê CamargoMuseu Nacional de Belas Artes

Os carretéis, brinquedos de infância, que segundo Iberê Camargo eram “impregnados de conteúdos” do seu mundo, ocuparam durante um tempo o seu imaginário artístico. A experiência europeia ampliara os modos de ver e sua gestualidade. A gravura passará a ser, além da pintura, um terreno fértil de criação e experimentação. Nesta obra, carretéis e frutas se equilibram sobre uma superfície plana. Nuanças de claro e escuro se fazem através do controle da tinta no ato da impressão. Os planos são diferentes e quase se fundem na ausência de uma perspectiva aplicada à composição.

Topografia (1960) by Darel Valença LinsMuseu Nacional de Belas Artes

Na topografia de Darel Valença Lins elementos urbanos podem ser reconhecidos, ainda que esse reconhecimento pareça ser tragado pelo grafismo da imagem, onde um centro enegrecido predomina.

Os jogos e os enigmas, Maria Leontina, 1954, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Study for the Industrialização do Brasil panel, Candido Portinari, 1960, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Natureza-morta, Arcângelo Ianelli, 1960, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Festa, Lívio Abramo, 1956, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Variação sobre oval nº 2 (1953) by Zélia SalgadoMuseu Nacional de Belas Artes

O mármore negro predomina e é preciso aproximar-se com cuidado e atenção para notar os detalhes que nos sugerem outra leitura. A começar pelo formato da pedra, que guarda algo de familiar e lembra, ainda que muito distorcida, uma cabeça. Depois vem o nariz, de lado, achatado, que tira da escultura o que parece sempre ter sido dela de direito, a simulação tridimensional da realidade. Além disso, deitada e comprimida, olhando não se sabe para onde, recusa a verticalidade e a frontalidade com o observador. Escultura que nega e afirma um rosto, é um caso exemplar das experiências que os artistas se permitem ao retrabalhar a espacialidade da obra.

Figura de mulher, Bruno Giorgi, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Figuras humanas (1953) by Maria LeontinaMuseu Nacional de Belas Artes

Sem Título by Anatol Wladyslaw, Naftal Wladyslaw, DitoMuseu Nacional de Belas Artes

Nesse terceiro instante, as obras assumem seu lugar no mundo concreto, fora da representação da realidade visual, para se apresentar enquanto si mesmas no espaço físico, fazendo os dois mundos, antes separados, estarem ligados por uma dupla espacialidade que atravessa o real como um espaço dinâmico, diferenciado. A obra não evoca, está presente, é um ente como seu observador e, enquanto tal, modifica as relações em seu entorno.

Structure (1961) by Iberê CamargoMuseu Nacional de Belas Artes

A consistência da tinta oleosa sobre a tela, em generosas porções sobrepostas, não representa mais a realidade exterior, mas parece trazer de algum outro lugar a solidez do que não poderia ser visto. As cores e as pinceladas largas e densas são estruturantes nesta pintura. Longe da figuração, Iberê Camargo expandiu sua criação adentrando numa atmosfera onde a matéria tem a força do pensamento e da ação.

Forma abstrata (1954) by Sergio de CamargoMuseu Nacional de Belas Artes

5904 [Composição abstrata] (1959) by Fayga OstrowerMuseu Nacional de Belas Artes

Composição geométrica (1953) by Maria LeontinaMuseu Nacional de Belas Artes

Sem título, Fayga Ostrower, 1994, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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É interessante perceber o lirismo e a transparência da obra de Fayga Ostrower

9301, Fayga Ostrower, 1993, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Torre (1958) by Franz WeissmannMuseu Nacional de Belas Artes

e o ritmo e a geometria da escultura de Franz Weissmann, tão diferentes em suas abordagens, mas ambos fugindo do instante retido e do identificável em direção a um lugar perene, sem começo nem fim.

Ilusão do espaço, Dionísio del Santo, 1972, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Relevo Emblema, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Composição abstrata, Aluísio Carvão, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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Untitled (2005) by Gonçalo IvoMuseu Nacional de Belas Artes

Untitled, Gonçalo Ivo, 2005, From the collection of: Museu Nacional de Belas Artes
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2/89/94 (1994) by Manfredo de SouzanettoMuseu Nacional de Belas Artes

Sem título (1988) by Paulo PastaMuseu Nacional de Belas Artes

Credits: Story

O Espaço da Arte

Museu nacional de Belas Artes
13 de janeiro de 2018 a 27 de maio de 2018

Curadoria
Daniel Baretto
Laura Abreu

Credits: All media
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