Glauber Rocha: figura central no "Cinema Novo" do Brasil

Resistência e protesto no cinema brasileiro

Glauber Rocha (20th Century) de Cinemateca BrasileiraMuseu Virtual da Lusofonia

Glauber Rocha (1939-1981) foi um cineasta brasileiro e uma das figuras mais proeminentes do Cinema Novo Brasileiro. Começou a trabalhar como jornalista e crítico de cinema, e em 1959 realizou o seu primeiro filme, a curta-metragem Pátio (1959). A feroz abordagem da situação política do país, sob um olhar disruptivo, visionário e experimental, marca de forma indelével o seu cinema. Partiu para exílio voluntário em 1971, após sucessivos conflitos com as autoridades devido ao seu posicionamento crítico face à ditadura militar (1964-1985).

Toque para explorar

Praça Tancredo Neves e a Catedral da Nossa Senhora das Vitórias, em Vitória da Conquista (Bahia), onde Glauber Rocha nasceu.

Glauber o filme, Labirinto do Brasil (21th Century) de Silvio TendlerMuseu Virtual da Lusofonia

GLAUBER O FILME, LABIRINTO DO BRASIL
Silvio Tendler | 2003

Glauber o Filme, Labirinto do Brasil, de Silvio Tendler, é um documentário que nos permite conhecer a vida e obra de Glauber Rocha.

Toque para explorar

O começo de uma carreira

A Praia do Buraquinho, em Lauro de Freitas (Bahia), onde Barravento (1962) foi filmado.

Barravento (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

BARRAVENTO
Glauber Rocha | 1962

Barravento é filmado no estado da Bahia. Quando um homem regressa à terra-natal, uma aldeia piscatória, encontra essa comunidade oprimida pelo misticismo religioso. A primeira longa-metragem de Glauber Rocha é uma profunda reflexão na maneira como a religião pode reprimir a consciência política e interferir nas relações humanas. Barravento revela-se um filme profético na carreira do cineasta, mostrando já o poder do cinema como um instrumento de análise e crítica das estruturas de poder das sociedades e o seu devastador impacto nas necessidades humanas.

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Reconhecimento internacional

Monte Santo (Bahia), onde "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) foi filmado.

Deus e o Diabo na Terra do Sol (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

DEUS E O DIABO NA TERRA DO SOL
Glauber Rocha | 1964

Uma alegoria da luta humana, Deus e o Diabo na Terra do Sol passa-se num Brasil em conturbada transição do rural para o urbano, durante a década de 1930. Após assassinar um coronel tirano, Manoel foge com Rosa, a sua mulher, e acabam por se juntar a um grupo religioso que luta contra a opressão dos grandes latifundiários; porém, estes latifundiários contrataram um homem chamado António das Mortes para exterminar o grupo. A estética de Glauber Rocha é fortemente influenciada pelo período de contestação e transformação intelectual da década de 1960 em decorrência das crises políticas e da renovação a nível artístico.

Amazonas, Amazonas (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

AMAZONAS, AMAZONAS
Glauber Rocha | 1965

Amazonas, Amazonas é uma viagem pelo rio Amazonas, as suas atrações naturais e riquezas. A curta-metragem foi comissionada pelo Departamento de Turismo e Promoção do Amazonas.

Terra em Transe (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

TERRA EM TRANSE
Glauber Rocha | 1967

A alegoria política de Glauber Rocha decorre num país imaginário chamado Eldorado. Um dos filmes mais aclamados do realizador, Terra em Transe é uma metáfora sobre o poder político e a corrupção, influenciado pelos eventos políticos da década. A sua exibição foi inicialmente proibida no Brasil. Vencedor do Leopardo de Ouro no Festival de Locarno em 1968.

O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

O DRAGÃO DA MALDADE CONTRA O SANTO GUERREIRO
Glauber Rocha | 1969

Precedido por Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro passa-se vários anos depois de António das Mortes ter matado Corisco, o último dos cangaceiros. Agora, um novo cangaceiro chega a uma pequena cidade chamada Jardim das Piranhas, onde terá que enfrentar António das Mortes. Inicia-se então o duelo entre o dragão da maldade contra o santo guerreiro. Vencedor do prémio de melhor realizador no Festival de Cannes de 1969.

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O exílio e a década final

O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, onde foi rodada a sequência inicial de Câncer (1968-1972).

O Leão de Sete Cabeças (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

O LEÃO DE SETE CABEÇAS
Glauber Rocha | 1970

O Leão de Sete Cabeças é o resultado de uma proposta de Claude-Antoine, que convidou Glauber Rocha para fazer um filme no Congo. Este é um filme que reflete sobre os efeitos devastadores do colonialismo euro-americano em África, tomando a perspetiva do Outro colonizado e subordinado.

Cabeças Cortadas (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

CABEÇAS CORTADAS
Glauber Rocha | 1970

Cabeças Cortadas também é o resultado de uma proposta do produtor espanhol Pere Fages, que convidou Glauber Rocha para fazer um filme em Espanha. Este filme é uma alegoria das políticas dos países marcados pelo subdesenvolvimento, através da figura delirante de Diaz, um ditador latino-americano deposto que sonha com o poder que outrora deteve em Eldorado – o mesmo lugar imaginário de Terra em Transe.

Câncer (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

CÂNCER
Glauber Rocha | 1968-1972

Câncer difere dos outros filmes do "Cinema Novo Brasileiro", com propostas estéticas muito mais próximas do cinema underground, como observou Luís Alberto Rocha Melo. Isto encontra-se bem resumido nas palavras de Glauber Rocha: Câncer é um filme particular, não vou enviá-lo a festivais, nem vou exibi-lo nos cinemas. Ou talvez o exiba, mas ainda não o terminei, falta fazer a montagem. No momento não estou interessado em fazê-lo porque meu prazer foi só filmá-lo e suponho que talvez o que esteja lá não tenha importância.

Claro (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

CLARO
Glauber Rocha | 1975

Misturando documentário e ficção, Claro é um filme que explora as desigualdades sociais e económicas em Roma, e o lado obscuro por detrás da cidade turística. Há uma frase bastante ilustradora de uma das personagens do filme, que, referindo-se a um bairro específico, explica: O bairro foi criado no tempo do fascismo. Eles queriam limpar o centro da cidade. Decidiram, assim, que os pobres que incomodavam os turistas, e principalmente o Vaticano, deveriam ser levados para casas confortáveis, bem arrumadinhas, mas a 20km da cidade, num gueto.

Di Cavalcanti (20th Century) de Glauber RochaMuseu Virtual da Lusofonia

DI CAVALCANTI
Glauber Rocha | 1977

O funeral do artista plástico Di Cavalcanti sob um efusivo, vibrante e até lúdico olhar, através de uma série de imagens e sons dispersos. Di Cavalcanti é o informal tributo de Glauber Rocha a um artista e à sua carreira.

A IDADE DA TERRA
Glauber Rocha | 1980

Inspirado num poema de Castro Alves, A Idade da Terra é o último filme realizado por Glauber Rocha. O filme revisita o mito cristão a partir de elementos da cultura brasileira. Como diz Glauber Rocha: O filme mostra um Cristo-pescador (…), um Cristo – negro (…), mostra o Cristo que é um conquistador português (…) e mostra o Cristo Guerreiro-Ogum de Lampião (…). Quer dizer os quatro Cavaleiros do apocalipse que ressuscitam o Cristo do terceiro mundo, recontando o mito através dos quatro evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João, cuja identidade é revelada no filme quase como se fosse um terceiro testamento.

Créditos: história

Ilustração da capa: Tiago Vieira da Silva
Tratamento de imagem: Joana Canas

REFERÊNCIAS:

Globo. (1980). Programa Fantástico. Retirado de https://www.youtube.com/watch?v=EV04KyhMhj0&t=97s

Melo, L. A. R. (s.d). Câncer, de Glauber Rocha. Contracampo: Revista de Cinema, [s.l.], [s.d.]. Retirado de http://www.contracampo.com.br/30/cancer.htm

Rodriguez, P. A. S. (2016). Latin American Cinema: A Comparative History. California: University of California Press.



Links:
Câncer, de Glauber Rocha - "Contracampo: Revista de Cinema"

Entrevista com Glauber Rocha - "Programa Fantástico"

Créditos: todos os meios
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