Exposição "Vidas Refugiadas" (2017)Museu da Imigração do Estado de São Paulo
Realizar travessias globais é da essência da humanidade e a humanidade, em sua essência, é una.
A exposição é uma iniciativa do Projeto Global Crossings, da Cátedra Jean Monnet, da Universidade Federal de Uberlândia e coordenada pela Profa. Claudia Loureiro, que também assina a curadoria. Com o objetivo de explorar a cidadania global, a mostra propõe um conceito que transcende os vínculos tradicionais entre o indivíduo e seu país de origem, promovendo o respeito aos direitos humanos e incentivando práticas cidadãs em um contexto global.
Utilizando recursos do acervo do Museu da Imigração e depoimentos coletados pela curadoria, o público é convidado a pensar o princípio da humanidade e o direito de migrar. Abordando valores universais que transcendem fronteiras, propomos um diálogo interdisciplinar com a sociedade civil, incentivando a reflexão sobre o acolhimento de migrantes forçados e a garantia de seus direitos, evitando sua desumanização.
Humankind
Humanidade diz respeito a qualidade de ser humano, humanness, e a consideração de todos os seres humanos em seu todo, humankind, ou seja, se refere a qualidade de ser humano, em sentido abstrato, uma vez que a totalidade da existência é indivisível e independe de fronteiras.
O princípio da humanidade expressa um sentimento de boa vontade em direção à humanidade, um valor moral ou atitude de delicadeza, gentileza, generosidade, paciência e compaixão.
A antiga Hospedaria para Imigrantes, hoje Museu da Imigração, desempenhou um papel crucial ao acolher imigrantes em São Paulo, aliviando seu sofrimento. A migração forçada gera grande dor, e é essencial que os Estados, organizações internacionais e a comunidade global sejam sensíveis a essa realidade. As barreiras impostas pela comunidade internacional aumentam o sofrimento dos migrantes que fogem de conflitos, desastres ambientais e violações dos direitos humanos.
Tratar a migração como uma questão global é fundamental para a proteção dos direitos humanos, pois a desumanização de um migrante afeta a humanidade como um todo, e a violação dos direitos em qualquer lugar impacta o mundo inteiro.
Imigrantes e migrantes aguardando a chamada para o registro no Livro de Matrícula da Hospedaria do Brás (1930/1939), de DesconhecidoMuseu da Imigração do Estado de São Paulo
Gente do mundo, mundo das gentes
A migração forçada, em que pessoas cruzam fronteiras como indocumentadas, causa sofrimento individual e coletivo, afetando a dignidade humana e os direitos de toda a humanidade. Resolver esse problema é responsabilidade de toda a comunidade global.
É preciso ressaltar que nenhum imigrante é ilegal, uma vez que todos buscam por melhores condições de vida e, muitas vezes, por sobrevivência nos países de destino. Muitos deixam os seus países de origem para fugir das atrocidades vivenciadas e, assim, migram sem documentos e sem obter a prévia autorização dos países de destino, mas, independentemente disso, migrar é um direito humano previsto no artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948.
Depoimento Abdoulaye Guibila - Mensagem para os governos:Museu da Imigração do Estado de São Paulo
O status da ilegalidade equivaleria à revitimização desses seres humanos que realizam travessias globais por diversos motivos, tais como conflitos armados, desastres ambientais, degradação dos direitos humanos, sobrevivência e a busca de melhores condições de vida.
A mobilidade humana é parte da trajetória e do desenvolvimento da humanidade. Nossos ancestrais já eram migratórios. Migrar significa mudar de um local a outro e, nesse sentido, migração é gênero que tem como espécies a migração forçada e a voluntária.
Desumanização
A migração forçada degrada os direitos humanos dos envolvidos, sujeitando-os à exploração e vulnerabilidade. A mostra temporária Costurando Dignidades, exposta no Museu da Imigração em 2019, apresentou mulheres que foram submetidas à exploração em oficinas de costura em São Paulo.
A migração forçada coisifica as pessoas, considerando-as menos que humanas, fazendo com que os seres humanos sejam considerados como objeto e não como sujeitos de direitos, despersonalizando-os, o que atinge a sua integridade, diminuindo sua humanidade.
A desumanização de um ser humano impacta na degradação dos direitos humanos de todos e, assim, toda a humanidade, humankind, passa a ser vítima. Por isso, o resgate da dignidade humana dos migrantes é de interesse global, pois impacta na consideração da humanidade como um todo.
Ausência
Saudade de casa, da escola, da família, do trabalho, do cheiro da comida e da rotina é comum entre migrantes. Separados de suas famílias, a saudade é um sentimento difícil de assimilar e as cartas demonstram o desejo dos imigrantes de realizarem a reunião familiar.
Carta de Adama Konate (2015)Museu da Imigração do Estado de São Paulo
"Quero dizer a todos vocês, meus pais e amigos, que está tudo bem e eu espero que também vocês estejam em paz. A única coisa que me faz perder o sono é a saudade do meu país e de cada um de vocês."
"Hoje o meu coração e meu pensamento estão voltados para a minha terra, porque estar longe de minha mãe, meu pai, meus irmãos e amigos é tão difícil para mim como esta viagem a um mundo novo."
Depoimento Abdoulaye Guibila - Saudade da mãe:Museu da Imigração do Estado de São Paulo
Todo ser humano pertence ao seu Estado de origem, com o qual mantém um vínculo jurídico-político de nacionalidade, mas também pertence a uma comunidade global, como cidadão global, devendo ser considerado como sujeito de direito no contexto nacional e global.
Exposição "La Jornada: A resiliência do povo venezuelano em busca de refúgio no Brasil" (2019)Museu da Imigração do Estado de São Paulo
A desumanização reflete o poder de contar uma história única. Ao longo do tempo, a vida dos migrantes vem sendo contada, de forma unilateral, a partir da fala dos detentores do poder, o que é muito perigoso.
Nas palavras do poeta paquistanês, Mourid Barghout, reproduzidas na fala de Chimamanda Adichie, uma história precisa ser contada a partir de diversos lugares, principalmente a partir da perspectiva das pessoas envolvidas.
Depoimento da pesquisadora Evelize Moreira – Trabalho de resgate de memória do Museu da Imigração:Museu da Imigração do Estado de São Paulo
Caminhos para a Trans_Humanidade
Os cidadãos globais são um mosaico com pessoas de diversas partes do mundo, com culturas diferentes, costumes diferentes e com aparências diversas. Resta-nos aceitar o outro, sua diversidade, para evoluirmos enquanto humanidade.
Trecho Declaração das Raças Unesco (1950)Museu da Imigração do Estado de São Paulo
Depoimento Profa. Sonia – Mundo sem fronterias:Museu da Imigração do Estado de São Paulo
A raça humana é uma só. O mundo é um só. A humanidade é uma só. As fronteiras são porosas. Migrar é um direito humano.
GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO
Tarcísio de Freitas
Governador do Estado de São Paulo
Felicio Ramuth
Vice-Governador
Marília Marton
Secretária de Estado da Cultura e Economia Criativa
INSTITUTO DE PRESERVAÇÃO E DIFUSÃO DA HISTÓRIA DO CAFÉ E DA IMIGRAÇÃO
Alessandra Almeida
Diretora Executiva
Thiago Santos
Diretor Administrativo
Caroline Feijo Nóbrega
Gerente de Comunicação e Desenvolvimento Institucional
Daniel Correa
Gerente Administrativo
César Pimenta
Coordenador de Infraestrutura
Henrique Trindade
Coordenador de Formação e Educação
Otávio Balager
Coordenador de Preservação
Thiago Haruo
Coordenador de Pesquisa
Thâmara Malfatti
Coordenadora de Comunicação Institucional
TRAVESSIAS GLOBAIS
Realização
Cátedra Jean Monnet
Universidade Federal de Uberlândia
Projeto Global Crossings
Financiamento
União Europeia
Curadoria e pesquisa
Claudia Loureiro
Evelize Moreira
Depoimentos
Abdoulaye Guibila
Sonia Altomar
Evelize Moreira
Montagem da exposição
Gabriela Araújo Santos